- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 21 , AGOSTO 2025
As recentes ameaças dos Estados Unidos de realizar uma intervenção militar na Venezuela reacenderam tensões diplomáticas no continente latino-americano, elevando o risco de instabilidade geopolítica na região. A possibilidade, ventilada por veículos como a CNN e a Reuters com base em fontes do Pentágono, menciona o envio de 4 mil militares norte-americanos e três porta-aviões de guerra para a costa venezuelana, sob a justificativa de combate ao narcotráfico.
Apesar de ainda não haver confirmação oficial por parte de Washington, a retórica da Casa Branca endureceu nos últimos dias. A porta-voz Karoline Leavitt declarou que o presidente Donald Trump está preparado para usar “todo o poder americano” contra o tráfico de drogas. Ela classificou o regime de Nicolás Maduro como um “cartel de narcoterrorismo” e afirmou que o líder venezuelano é “um fugitivo acusado nos EUA por tráfico”.
Em resposta, o presidente venezuelano reagiu com firmeza:
“Nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela ou da América do Sul. Nunca mais pisarão com seus passos insolentes na terra de Bolívar”, afirmou Maduro, que anunciou a mobilização de até 4,5 milhões de milicianos para proteger o país.
Brasil, México e Colômbia repudiam ameaças
A movimentação norte-americana foi condenada por autoridades brasileiras, mexicanas e colombianas. Em audiência na Câmara dos Deputados, o embaixador Celso Amorim, assessor internacional da Presidência da República, demonstrou preocupação com o deslocamento de navios de guerra dos EUA para a costa venezuelana.
“A não intervenção é um princípio basilar da política externa brasileira. Nos preocupa muito a presença de barcos de guerra próximos à costa venezuelana, sobretudo diante das declarações recentes. O crime organizado deve ser combatido com cooperação, e não com intervenções unilaterais”, destacou Amorim.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, também defendeu a soberania dos países latino-americanos e afirmou que o narcotráfico deve ser enfrentado de forma coordenada e respeitando os princípios internacionais.
Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro — apesar das desavenças com Maduro — criticou abertamente os planos de Washington.
“Os americanos estão perdidos se acham que invadir a Venezuela resolverá seus problemas. Isso pode arrastar a Venezuela para uma situação semelhante à da Síria, com o agravante de envolver também a Colômbia”, alertou.
Maduro contesta acusações
O governo venezuelano nega a existência do suposto Cartel de los Soles, apontado pelos EUA como um grupo de militares envolvidos no tráfico de drogas sob comando de Maduro. Em comunicado oficial, Caracas afirmou que as acusações são uma tentativa dos EUA de justificar uma ação militar encoberta.
“Essas ameaças não afetam apenas à Venezuela, mas colocam em risco a paz de toda a região, inclusive a Zona de Paz declarada pela Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos]”, diz a chancelaria venezuelana.
Apesar da retórica de resistência, analistas avaliam que a capacidade das Forças Armadas venezuelanas é limitada. Segundo o historiador e especialista em geopolítica Rodolfo Queiroz Laterza, o país não teria força para resistir a uma ofensiva dos EUA.
“A capacidade de dissuasão das forças armadas latino-americanas é pífia diante do poder militar norte-americano. Isso vale para toda a região, inclusive o Brasil, que ainda mantém setores que apostam em dependência estrutural dos EUA, o que é um erro estratégico”, opinou.
Base frágil para acusação
Estudos como o do Escritório de Washington para a América Latina (WOLA) apontam que a Venezuela não é rota principal para o tráfico de drogas para os EUA. Apenas 7% da cocaína que chega ao país norte-americano passa pelas águas venezuelanas. A maior parte das remessas utiliza rotas pelo Caribe Ocidental e Pacífico Oriental, segundo dados oficiais norte-americanos.
Com essa escalada retórica e militar, a crise envolvendo os EUA e a Venezuela pode colocar toda a América Latina em alerta, reacendendo temores sobre intervenções unilaterais e disputas de poder no continente, algo não visto desde a invasão do Panamá, em 1989. A comunidade internacional, especialmente os países da região, agora se mobiliza para evitar uma nova ruptura na já frágil estabilidade regional.