- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


Trabalhadores de diferentes setores participaram, nesta quinta-feira (16), de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal para debater os impactos da proposta que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês.
O projeto de lei, já aprovado pela Câmara dos Deputados, é de autoria do governo federal e prevê, além da nova faixa de isenção, a criação de uma alíquota de 10% para contribuintes com renda tributável superior a R$ 600 mil anuais. Estima-se que cerca de 141,4 mil pessoas físicas de alta renda sejam impactadas. Atualmente, esse grupo paga, em média, 2,5% de IR sobre seus rendimentos totais.
Para rendimentos mensais entre R$ 5 mil e R$ 7.350, haverá uma redução gradual no valor do imposto. Acima desse valor, as regras permanecem inalteradas.
Durante a audiência, trabalhadores destacaram que a mudança é uma medida de justiça social e pode impulsionar a economia, ao devolver poder de compra às famílias de baixa e média renda.
“É justiça social, não privilégio”
Tiago Bitencourt Neves, comerciário, defendeu a progressividade tributária como uma questão estrutural para o país. “O Brasil precisa de um sistema que taxe o luxo, e não o arroz e o feijão. Que cobre de quem vive de especulação, como bancos, casas de apostas (‘bets’) e os bilionários”, afirmou.
Ele destacou que a proposta não é apenas técnica, mas política: “É sobre quem paga a conta e quem se beneficia do país que construímos todos os dias com o nosso trabalho”.
Jadiel de Araújo Santos, trabalhador do setor de serviços, ressaltou que os parlamentares têm a chance de corrigir uma injustiça histórica. “Essa tabela está defasada há anos. Quem ganha até R$ 5 mil não é privilegiado — é quem sustenta este país. Essa medida devolve dignidade às famílias brasileiras.”
Juliano Rodrigues Braga, bancário, apontou o impacto direto no orçamento dos trabalhadores. Segundo ele, a economia de cerca de R$ 2.500 por ano “faz diferença real na sobrevivência digna” e ajuda a movimentar o comércio local.
“Quem ganha mais, precisa pagar mais”
Para Claudionor Vieira do Nascimento, metalúrgico do ABC, cerca de 68% da categoria será beneficiada com isenção ou redução do IR. Ele criticou a atuação de parlamentares que tentam associar o projeto a um suposto aumento de impostos.
“Quando se trata de beneficiar grandes grupos econômicos, muitos parlamentares não reclamam das isenções — que somam mais de R$ 800 bilhões. Mas, quando o projeto beneficia os trabalhadores, aí se levanta a bandeira da responsabilidade fiscal”, ironizou.
Silvia Letícia Alves Mattar, gerente de posto de combustíveis, disse que, no seu caso, a medida representa cerca de R$ 200 a mais por mês. “É praticamente um 14º salário. Esse dinheiro volta direto para a economia”, afirmou.
Zacarias Assunção, do setor de alimentação, reforçou a injustiça atual do sistema: “É revoltante ver quem ganha menos pagar mais imposto, enquanto os mais ricos pagam proporcionalmente menos. Isso precisa mudar”.
Trabalhadores pedem mais conquistas
O frentista Willian Ferreira da Silva também defendeu a redução da jornada de trabalho como próxima pauta de justiça social. “Trabalhamos seis dias para descansar um. Isso precisa ser revisto. A qualidade de vida do trabalhador também importa. O capital sozinho não gera riqueza. Quem produz é o trabalhador”, disse.
Já o trabalhador químico José Evandro Alves da Silva defendeu mobilização popular para garantir avanços sociais. “Como fizemos no passado contra a anistia, é hora de irmos às ruas novamente. Nenhum direito veio sem luta”, afirmou.