- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


Os empréstimos concedidos pela quadrilha investigada na Operação Fides Fracta — composta por nove policiais militares e outros 15 integrantes — chegavam a juros de até 50% ao mês, segundo o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco). As cobranças eram acompanhadas de ameaças, violência e até tortura contra vítimas que não conseguiam pagar.
A prática de agiotagem, caracterizada como usura, era uma das principais fontes de enriquecimento ilícito do grupo. De acordo com o delegado do Gaeco, Hércules Batista Gonçalves, algumas vítimas relataram juros considerados “absurdos”. Para outros policiais, os chamados “colegas de farda”, os juros eram menores — cerca de 15% — mas ainda acima do permitido por lei.
“Isso demonstra uma busca pelo lucro a todo custo, com o emprego de todos os meios necessários para alcançar os objetivos da organização. As movimentações patrimoniais chegaram a níveis milionários, tanto que a investigação resultou no sequestro de diversos veículos, imóveis e outros bens”, afirmou Hércules.
Até o momento, 22 bloqueios de bens foram realizados, incluindo 11 veículos — além de oito já apreendidos — e dezenas de eletrônicos como celulares, notebooks, tablets, CPUs e equipamentos de transação financeira.
O tenente-coronel Frederico Lopes destacou que o esquema teve início após um repentino enriquecimento ilícito de alguns policiais. “Com esse enriquecimento, eles passaram a praticar agiotagem. Concediam empréstimos e exigiam como garantia bens móveis, cheques e joias”, explicou.
Para cobrar as dívidas, os policiais utilizavam intermediários e até familiares, responsáveis por extorquir vítimas sob ameaças e violência. “Há pessoas próximas envolvidas tanto na lavagem de dinheiro quanto nas cobranças”, afirmou Lopes.
Durante as buscas, foram encontradas 11 armas de fogo e diversos itens que reforçam o uso sistemático de intimidação. Boletins de ocorrência registrados por vítimas também confirmam ameaças e extorsões. A investigação já identificou casos de tortura: em um dos episódios, uma vítima foi agredida por vários integrantes para entregar dinheiro que o grupo afirmava ser devido.
“Há vídeos e boletins de ocorrência sendo analisados judicialmente. As condutas não deixam dúvidas: eles praticaram extorsão e tortura”, disse o delegado Hércules.
O grupo é investigado por agiotagem, extorsão, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial. A Operação Fides Fracta cumpriu 28 mandados de busca e apreensão e 22 mandados de sequestro de bens. A quadrilha atuava na região metropolitana de Cuiabá, Várzea Grande e também em Goiânia (GO).
Os mandados foram autorizados pela 4ª Vara do Núcleo de Justiça 4.0 do Juiz de Garantias da Comarca de Cuiabá, que determinou ainda o bloqueio de até R$ 1 milhão por investigado.