- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 24 , ABRIL 2025
Apontado como “testa de ferro” do esquema de compra de votos que teria ajudado a reeleger o prefeito de Brasnorte (a 580 km de Cuiabá), Edelo Ferrari (União), o subsecretário de Infraestrutura, Rogério Gonçalves, passou mal durante a oitiva realizada nesta semana na Justiça Eleitoral. O processo, que segue sob sigilo, pode culminar na cassação da chapa do prefeito reeleito Edelo Marcelo Ferrari (União).
Rogério é um dos principais investigados na ação movida pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), que o aponta como responsável direto pela logística do esquema, incluindo transporte de eleitores indígenas, pagamentos em dinheiro e distribuição de benefícios em troca de votos. Confirme apurou FatoAgora, durante o depoimento, ele começou a sentir-se mal e precisou ser retirado da sala para receber atendimento médico.
A oitiva contou ainda com depoimentos da testemunhas, da acusação e da defesa. O juiz responsável pelo caso deve ouvir, nos próximos dias, os réus citados na ação, incluindo o prefeito Edelo Ferrari, a vice-prefeita Roseli Borges de Araújo Gonçalves e o vereador Gilmar Celso Gonçalves, o “Gilmar da Obras”. Após essa etapa, o Ministério Público apresentará suas alegações finais e a defesa terá prazo para se manifestar antes do julgamento definitivo.
A ação foi protocolada pelo promotor Jacques de Barros Lopes. Nela, o MPE aponta que a chapa de Edelo Ferrari cometeu abuso de poder político e econômico durante o processo eleitoral de 2024, especialmente por meio do aliciamento de eleitores indígenas da etnia Enawene Nawe. A prática teria envolvido a oferta de dinheiro, medicamentos, fraldas descartáveis e até frangos congelados em troca de votos.
O Ministério Público estima que o esquema teve impacto direto no resultado da eleição, já que o número de indígenas com título transferido para Brasnorte — ao menos 107 — foi considerado decisivo para a vitória do prefeito, reeleito com 4.634 votos válidos. Os indígenas residem, na verdade, em outros municípios, como Juína, Comodoro e Sapezal.
Além da compra de votos, a denúncia cita que o grupo fretou ônibus para o transporte ilegal dos eleitores. A logística, segundo o MPE, foi organizada por Rogério Gonçalves e João Gomes da Silva Júnior, diretor de iluminação da Secretaria de Infraestrutura. Juntos, eles coordenaram a contratação de dois ônibus, com custo total de R$ 17 mil, e organizaram o abastecimento de veículos particulares com combustível fornecido por aliados da chapa.
Na véspera do pleito, os ônibus foram interceptados pelo Exército Brasileiro após denúncias de irregularidades. Mesmo assim, os indígenas compareceram às urnas por conta própria. A denúncia ainda revela que Edelo e Gilmar ofereceram R$ 20 mil, a serem divididos entre os eleitores da etnia, e pediram que o grupo não comentasse sobre o esquema.
Nas redes sociais, o prefeito afirmou estar surpreso com a ação e disse confiar na sua inocência. “Passamos o caso para os nossos advogados que estão olhando o processo para quando formos citados, fazermos a nossa defesa. Estou de consciência tranquila e, como diz aquele ditado: quem não deve não teme”, disse.