- CUIABÁ
- SÁBADO, 14 , JUNHO 2025
Pela primeira vez na história, a Dívida Pública Federal (DPF) ultrapassou a marca de R$ 7,6 trilhões, impulsionada principalmente pelos juros. Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Tesouro Nacional, o estoque da dívida passou de R$ 7,508 trilhões em março para R$ 7,617 trilhões em abril, um avanço de 1,44%.
A DPF, que representa o total de débitos do governo federal com investidores, já havia superado a marca de R$ 7 trilhões em junho de 2023. Apesar da alta, o valor atual segue dentro da meta estipulada pelo Plano Anual de Financiamento (PAF), que prevê para o fim de 2025 um total entre R$ 8,1 trilhões e R$ 8,5 trilhões.
Alta puxada por juros
A Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi), que representa os títulos emitidos no mercado doméstico, cresceu 1,55% no período, passando de R$ 7,199 trilhões em março para R$ 7,31 trilhões em abril. O aumento foi puxado pela emissão líquida de R$ 41,42 bilhões, com destaque para os papéis atrelados a índices de preços. Além disso, o impacto da apropriação de R$ 70,3 bilhões em juros contribuiu significativamente para o crescimento do estoque.
A apropriação de juros corresponde ao reconhecimento mensal da correção dos títulos públicos, que é incorporada ao valor total da dívida. Com a Taxa Selic atualmente em 13,75% ao ano, esse mecanismo tem pressionado o endividamento federal.
Em abril, o Tesouro emitiu R$ 204,46 bilhões em títulos, enquanto os resgates — especialmente de papéis prefixados com vencimento no período — somaram R$ 163,04 bilhões.
Dívida externa recua com queda do dólar
Na contramão da dívida interna, a Dívida Pública Federal externa (DPFe) registrou queda de 1,1%, passando de R$ 309,54 bilhões em março para R$ 306,13 bilhões em abril. O recuo foi influenciado principalmente pela valorização do real, com queda de 1,42% do dólar no período.
Colchão da dívida se fortalece
Após recuar em março, o colchão da dívida — reserva financeira usada para amortecer choques e cobrir vencimentos de curto prazo — voltou a crescer. Passou de R$ 869 bilhões para R$ 904 bilhões, o maior patamar desde agosto do ano passado. O reforço foi atribuído à emissão líquida de títulos no mês. Atualmente, o colchão cobre 8,57 meses de vencimentos da dívida. Nos próximos 12 meses, estão previstos vencimentos de R$ 1,365 trilhão.
Mudanças na composição da dívida
Com o vencimento expressivo de títulos prefixados, a composição da dívida pública passou por alterações. A participação desses papéis caiu de 21,51% para 20,23%, ainda dentro da faixa projetada pelo PAF (19% a 23%).
Já os títulos atrelados à Selic aumentaram sua fatia de 46,38% para 47,3%, impulsionados pelo atual patamar da taxa básica de juros. O PAF prevê que esse tipo de papel fique entre 48% e 52% ao fim do ano.
A participação dos títulos corrigidos pela inflação também subiu, passando de 28,01% para 28,46%, dentro da meta de 24% a 28%. Já a fatia da dívida atrelada ao câmbio recuou de 4,11% para 4,01%, mantendo-se dentro do intervalo projetado (3% a 7%).
Prazo médio e detentores
O prazo médio da DPF subiu de 4,12 para 4,17 anos, indicando maior confiança dos investidores na capacidade de pagamento do governo. Prazos mais longos reduzem a pressão por refinanciamentos frequentes.
As instituições financeiras continuam sendo as principais detentoras da DPMFi, com 30,5% de participação, seguidas pelos fundos de pensão (23,9%) e fundos de investimento (22,1%). A participação dos investidores estrangeiros teve leve alta, passando de 9,6% em março para 9,7% em abril.
Como funciona a dívida pública
A Dívida Pública Federal é formada pelos empréstimos tomados pelo governo no mercado financeiro para cobrir déficits e honrar compromissos. Em troca, o governo emite títulos que prometem devolver os recursos em prazos determinados, com correções que podem seguir a Selic, a inflação, o dólar ou serem prefixadas.