- CUIABÁ
- TERÇA-FEIRA, 8 , JULHO 2025
Durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta sexta-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a criação de novas formas de financiamento global voltadas ao desenvolvimento sustentável, sem a imposição de condicionalidades e políticas de austeridade que comprometem a capacidade de investimento dos países mais pobres.
“Não se trata de doação de dinheiro, mas de empréstimos que permitam às pessoas saírem da miséria e darem um salto de qualidade”, afirmou o presidente, ao lado de ministros das Finanças, membros do conselho do banco e líderes empresariais, no encontro realizado no Rio de Janeiro. A reunião antecede a Cúpula de Líderes do Brics, marcada para domingo (6) e segunda-feira (7).
Lula reforçou críticas ao modelo de austeridade promovido por instituições tradicionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Segundo ele, tais políticas aprofundam desigualdades sociais e comprometem o crescimento de países em desenvolvimento.
“O modelo da austeridade não deu certo em lugar nenhum do mundo. Toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico mais rico. As instituições financeiras precisam entender que é possível criar um novo modelo de financiamento, sem condicionalidades prejudiciais”, declarou.
O presidente também destacou a situação crítica de países como o Haiti e diversas nações africanas. Citou o caso haitiano como exemplo de injustiça histórica, lembrando que o país pagou indenizações à França após conquistar sua independência. “O Haiti precisa ser reparado. Descobri esses dias que, corrigido para valores atuais, o país teria direito a receber de volta cerca de R$ 28 bilhões”, afirmou.
Lula criticou ainda o peso da dívida externa sobre os países mais pobres. “Não é aceitável que o continente africano deva US$ 900 bilhões e que os pagamentos de juros superem os recursos disponíveis para investimentos. Ou o mundo discute novas formas de financiamento, ou esses países continuarão pobres por mais um século”, alertou.
Papel do NDB
Criado em 2014, durante a Cúpula do Brics no Brasil, o Novo Banco de Desenvolvimento foi concebido como uma alternativa às instituições financeiras tradicionais. Seu foco é financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países emergentes e em nações em desenvolvimento. Desde 2016, o banco tem sede em Xangai, na China, e atualmente é presidido pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.
Lula reforçou o compromisso do NDB com o financiamento sustentável, lembrando que 40% dos recursos devem ser direcionados a projetos ambientais e sociais. Desde sua fundação, mais de 120 projetos, totalizando US$ 40 bilhões, foram aprovados nas áreas de energia limpa, transporte, saneamento, proteção ambiental e abastecimento de água.
O presidente também sugeriu que o banco financie estudos de viabilidade para a instalação de um cabo submarino que conecte os países do Brics, ampliando a soberania digital do bloco e melhorando a velocidade de troca de dados.
Outro destaque foi a defesa do uso de moedas locais nas transações comerciais entre os países membros. Atualmente, 31% dos projetos do NDB já são realizados nas moedas nacionais.
“Em um cenário global instável, marcado pelo retorno do protecionismo, pelo unilateralismo e pela crise climática, o papel do NDB na redução das vulnerabilidades de nossos países será cada vez mais relevante. Nosso banco não é apenas uma alternativa; ele demonstra que uma nova arquitetura financeira internacional é possível e necessária”, concluiu Lula.