- CUIABÁ
- SÁBADO, 19 , JULHO 2025
A Polícia Federal (PF) identificou indícios de possíveis vínculos entre um dos empresários investigados na Operação Sisamnes, Haroldo Augusto Filho, e ao menos dois ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As informações foram obtidas a partir da análise de celulares e documentos apreendidos nas fases iniciais da investigação.
No celular de Haroldo, foram encontrados diálogos com parentes de ministros e menções a autoridades do tribunal. Entre as descobertas está o uso, pelo ex-presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha, de uma aeronave particular disponibilizada pelo empresário para uma viagem de Brasília a Cuiabá, em abril de 2024. A viagem ocorreu para que o ministro participasse de um evento jurídico promovido pela seccional de Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), patrocinado pela Fource, empresa de Haroldo.
Além disso, a PF identificou conversas entre Haroldo e a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro Marco Buzzi, que também participou de eventos jurídicos em Cuiabá patrocinados pela mesma empresa. Em uma dessas ocasiões, Haroldo discutiu com um interlocutor a organização de um jantar para um ministro, e afirmou ser amigo da filha de um deles, sem citar nomes.
Até o momento, os ministros citados não são formalmente investigados. A apuração busca esclarecer se essas relações indicam irregularidades ou se representam apenas tentativas do empresário de se aproximar das autoridades. Os ministros negam ter qualquer proximidade com Haroldo.
Haroldo Augusto Filho foi alvo de busca e apreensão na primeira fase da Operação Sisamnes, deflagrada em novembro do ano passado com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Sócio da consultoria Fource, especializada na aquisição de empresas em crise, ele atua nos bastidores de processos judiciais, conforme aponta a investigação.
No STJ, uma das suspeitas é que a Fource tem interesse em um processo sob relatoria do ministro Marco Buzzi, que trata de uma disputa fundiária em Mato Grosso. Embora a empresa não conste formalmente no processo, um advogado vinculado a ela ingressou nos autos. Em 2022, o ministro Buzzi concedeu liminar favorável à parte representada nos bastidores pela Fource, anulando decisões das instâncias inferiores. O caso será julgado pela Quarta Turma do STJ, presidida por Noronha, os dois ministros com quem Haroldo buscou aproximação.
A investigação revelou que o empresário pode ter comprado decisões judiciais de desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, e agora a PF apura se houve tentativa de compra de decisões no STJ.
O esquema suspeito contaria com a participação do advogado Roberto Zampieri e do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves — este último investigado por influenciar gabinetes de ministros do STJ. Zampieri, assassinado em dezembro de 2023, foi pivô da investigação após diálogos encontrados em seu celular indicarem suspeitas de corrupção de magistrados.
Conversas entre Andreson e Zampieri indicam a manipulação de minutas de decisões judiciais e envolvimento em processos nos gabinetes dos ministros Marco Buzzi e João Otávio Noronha.
Com base nas provas, a PF abriu inquérito para apurar corrupção de assessores de quatro ministros do STJ, resultando no afastamento dos servidores investigados. A Corte informou que os processos administrativos continuam em andamento sem prazo para conclusão.
Noronha, questionado, afirmou que conhecia Haroldo porque ele já havia comparecido ao seu gabinete, mas negou relação de amizade e explicou que a viagem a Cuiabá foi organizada pela OAB, que teria disponibilizado o avião usado. O ministro se declarou suspeito para atuar no inquérito envolvendo Haroldo devido a essa viagem.
Por sua vez, Marco Buzzi negou ter contato com Haroldo e afirmou que participou de evento em Cuiabá a convite da OAB, viajando por voo comercial custeado pela instituição.
O caso segue sob análise da PF, com o objetivo de apurar possíveis irregularidades envolvendo membros do Judiciário e o empresário investigado.