- CUIABÁ
- TERÇA-FEIRA, 29 , JULHO 2025
O Brasil entra nesta semana em um momento crucial que pode trazer impactos negativos significativos para sua economia. Está prevista para entrar em vigor na próxima sexta-feira (1º) a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump. Até agora, não há sinais de que a medida será revertida ou adiada.
As tentativas de negociação lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin têm se mostrado infrutíferas. No sábado (19), Alckmin relatou uma conversa de 50 minutos com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, destacando o interesse brasileiro em manter o diálogo. “Conversamos longamente, apresentamos todos os argumentos e destacamos que o presidente Lula orienta uma negociação livre de contaminação política ou ideológica”, afirmou.
Apesar dos esforços, o próprio presidente Lula demonstrou ceticismo. “Ninguém pode dizer que o Alckmin não tenta. Ele liga todo dia, mas ninguém atende”, afirmou na sexta-feira (24). No domingo (27), Lutnick reforçou que a tarifa será implementada em 1º de agosto, sem prorrogações: “Sem mais períodos de carência”, disse à Fox News. Trump também confirmou, em viagem à Europa, que a data está mantida.
Brasil é o mais atingido
A medida faz parte de um pacote mais amplo: países que não fecharem acordo com os EUA até 1º de agosto enfrentarão tarifas elevadas. No entanto, o Brasil será o mais penalizado — nenhum outro país terá uma taxa tão alta quanto os 50% aplicados aos produtos brasileiros.
Nações como Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas, Japão e, mais recentemente, a União Europeia conseguiram acordos com os EUA e escapar de penalidades mais severas. A UE, por exemplo, fechou um acordo que limita a tarifa a 15%, frente aos 30% inicialmente propostos por Trump.
No caso brasileiro, o cenário é mais complexo por conta do viés político. Trump condicionou uma possível reversão da medida ao fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), classificando o processo como uma “caça às bruxas”. “Trump vê em Bolsonaro uma situação parecida com a sua própria, vítima de perseguição política”, analisa Christopher Garman, diretor da consultoria Eurasia para as Américas.
Garman avalia que a melhor estratégia, neste momento, é não retaliar. “Receber as tarifas e evitar represálias pode abrir espaço para um alívio futuro, principalmente se os efeitos inflacionários atingirem os consumidores americanos”, afirma.
Impactos econômicos e sociais
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que a tarifa poderá causar uma perda de R$ 52 bilhões nas exportações brasileiras e a eliminação de 110 mil empregos no curto prazo. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) projeta impactos ainda maiores no longo prazo: retração de R$ 175 bilhões no PIB, perda de 1,3 milhão de empregos, redução de R$ 24,4 bilhões na renda das famílias e queda de R$ 4,86 bilhões na arrecadação do governo.
Em um cenário de retaliação, com o Brasil impondo tarifas semelhantes aos EUA, a Fiemg calcula uma retração de R$ 259 bilhões no PIB, perda de 1,93 milhão de empregos e redução de R$ 7,21 bilhões na arrecadação de impostos.
Efeitos já atingem empresas
Mesmo antes da entrada em vigor da tarifa, empresas brasileiras já sentem os efeitos. A SDS Siderúrgica, com operações em Sete Lagoas e Divinópolis (MG), teve embarques para os EUA suspensos. O empresário Frederico Henriques Lima e Silva informou que 60% a 70% da produção da unidade recém-reformada de Divinópolis seria destinada ao mercado americano. “A retomada da operação estava prevista para julho. Agora, pode ser adiada indefinidamente”, lamenta.
Exportadores de frutas do Vale do São Francisco, como a GrandValle, também preveem prejuízos de até US$ 3 milhões apenas com cargas de manga. “Não temos mercados alternativos para escoar volumes tão grandes em tão pouco tempo”, alerta Luca Balallai, diretor da empresa.
O setor pesqueiro enfrenta situação semelhante. Arimar França Filho, da Produmar, afirma que a frota potiguar deve ficar ancorada em agosto. “O mercado interno não absorve a produção e o europeu está fechado desde 2017. A tarifa inviabiliza a exportação”, diz.
Empresários pressionam governo americano
Enquanto o governo brasileiro tenta negociar, empresas locais têm buscado o apoio de parceiros americanos para pressionar a Casa Branca. O setor de sucos, representado pela CitrusBR, afirma que quase 60% do suco de laranja consumido nos EUA vem do Brasil. A entidade tenta, com discrição, mobilizar empresas americanas importadoras para defender exceções à tarifa.
O setor cafeeiro segue estratégia semelhante. O Cecafé articula com a National Coffee Association dos EUA a exclusão do café da tarifa. Segundo o setor, a indústria do café movimenta US$ 343 bilhões e gera 2,2 milhões de empregos nos EUA. “É um argumento forte para buscar exceção”, afirmou um executivo brasileiro envolvido nas tratativas.
Já o setor de mineração, por meio do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), também está se organizando para negociar com empresas americanas e mitigar os impactos.
Governo prepara plano de contingência
Diante da iminente aplicação da tarifa, o governo Lula prepara um plano de contingência. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o plano já está concluído e será apresentado ao presidente. O documento reúne “medidas de todo tipo”, incluindo abertura de linhas de crédito para empresas afetadas.
“O cardápio foi encomendado por Lula e está de acordo com as regras internacionais”, disse Haddad em entrevista à rádio Itatiaia.