quinta-feira, 8 - maio 2025 - 14:46

Alckmin defende mudança no cálculo da inflação usado pelo BC e critica impacto da Selic alta


Geraldo Alckmin
Geraldo Alckmin

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, voltou a defender uma revisão na metodologia usada pelo Banco Central para medir a inflação que orienta suas decisões de política monetária.

Durante um almoço com representantes da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), nesta quarta-feira (8), Alckmin sugeriu que o BC adote um modelo semelhante ao do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, que utiliza a chamada inflação “core” — índice que desconsidera itens voláteis como alimentos e energia.

“Alimento é clima. Se tivermos, como tivemos no ano passado, uma seca brutal e um calor enorme, é óbvio que a safra vai cair. E não adianta aumentar os juros, porque isso não vai fazer chover. Da mesma forma, com energia e combustíveis: aumentar os juros não reduz o preço do petróleo. Isso é guerra, é geopolítica”, afirmou.

Segundo Alckmin, a metodologia utilizada pelo Fed busca refletir melhor as pressões inflacionárias estruturais da economia, sem ser distorcida por fatores climáticos ou externos. No Brasil, no entanto, o Banco Central utiliza o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, que inclui alimentos e energia entre os componentes da cesta, por considerar o impacto direto desses itens no custo de vida da população.

“Acho que o Banco Central deveria aprimorar [essa metodologia]. Não é uma discussão para esse momento, mas, no futuro, precisamos repensar”, reforçou.

O vice-presidente também voltou a criticar os efeitos da Selic elevada sobre a economia e as finanças públicas, destacando o impacto no custo de capital, na competitividade das empresas e no aumento da dívida pública.

“A Selic alta tem um impacto brutal no custo do capital. Quem precisa de crédito enfrenta dificuldades. Além disso, ela afeta fortemente a dívida pública, que é o principal problema fiscal do país. Cada 1 ponto percentual na Selic representa R$ 48 bilhões a mais no custo da rolagem da dívida”, destacou.

Apesar das críticas, Alckmin afirmou que não propõe uma mudança imediata, mas defende que o tema seja debatido tecnicamente em um momento mais oportuno.

“Quero deixar claro: não é para agora. Mas precisamos discutir, no futuro, uma forma de cálculo que evite a necessidade de manter juros tão altos. E, do mesmo modo que a taxa sobe, ela deve cair rapidamente quando possível. Esse é o segredo para aliviar o peso dos juros na economia”, concluiu.

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