terça-feira, 3 - junho 2025 - 07:08

Análise: Crise do IOF pressiona bandeira de Lula para o salário mínimo


Presidente lula
Presidente lula

Em meio à crise provocada pela proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva movimenta-se para proteger uma de suas principais bandeiras políticas: a valorização do salário mínimo. Os desdobramentos das últimas semanas revelam a disposição do Executivo em enfrentar resistências e buscar alternativas para manter uma das políticas mais simbólicas da era petista, considerada um pilar de sua plataforma de distribuição de renda.

Iniciada ainda nos primeiros mandatos de Lula, a política de reajustes reais do salário mínimo — acima da inflação — é tratada como uma marca registrada dos governos petistas. A equipe econômica reconhece que, a cada ponto percentual de aumento real, há um impacto direto nas contas públicas, devido ao efeito cascata sobre benefícios previdenciários, assistenciais e outros gastos vinculados ao mínimo. Ainda assim, o governo avalia que os ganhos sociais compensam os custos fiscais.

Segundo interlocutores próximos ao presidente, Lula tem reiterado pessoalmente o compromisso com a valorização do mínimo. Episódios recentes mostram que, mesmo diante de pressões pela responsabilidade fiscal, a ideia de congelar os aumentos reais do salário mínimo foi imediatamente rechaçada pelo presidente com um enfático “não”.

Ajustes na política, mas com limites

Apesar da resistência em abrir mão da valorização real, o governo fez concessões. Desde o início de 2025, passou a vigorar uma nova regra que limita os reajustes reais a até 2,5% acima da inflação. Até então, os aumentos seguiam a variação do PIB de dois anos anteriores, o que podia gerar variações maiores. A mudança representou uma vitória parcial da ala mais austera do governo, mas não comprometeu o compromisso político central de Lula.

Embate político e legado

A defesa do aumento real do salário mínimo também serve como contraponto político ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que, durante seu mandato, adotou a política de reajuste apenas pela inflação. A volta a esse modelo é defendida por parlamentares da oposição como medida para conter o crescimento das despesas públicas.

No entanto, aliados de Lula afirmam que é mais coerente, do ponto de vista político e social, que o governo enfrente outras disputas — como a revisão de isenções fiscais a setores da economia — do que recuar em uma política que simboliza o compromisso histórico do PT com os trabalhadores e a redução da desigualdade.

Esse argumento tem sido reforçado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vem citando a revisão de benefícios fiscais como uma das alternativas em negociação com o Congresso Nacional para compensar as despesas e manter o equilíbrio fiscal, sem abrir mão das diretrizes centrais do governo.

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