- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


Enquanto os Estados Unidos consolidam-se como o maior produtor de petróleo do mundo, o Brasil enfrenta projeções preocupantes para o futuro de sua produção. Estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, indicam que a produção brasileira poderá estagnar em 2030, cair pela metade até 2040 e praticamente ser extinta até 2050 — cenário que pode fazer o país voltar à condição de importador da commodity.
A disparidade entre os dois países se deve a uma combinação de fatores: condições geológicas, ambiente regulatório, modelos de negócio e estratégias de desenvolvimento do setor.
Nos Estados Unidos, a maior parte da produção vem da exploração onshore, principalmente do gás de xisto (shale), que possui menor custo e complexidade. Já no Brasil, a produção é concentrada em campos offshore, especialmente no pré-sal, localizado em águas profundas e ultraprofundas, o que exige infraestrutura sofisticada e investimentos mais altos.
Impacto da paralisação de leilões
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil perdeu uma grande oportunidade ao não manter a regularidade dos leilões de exploração. Após a descoberta do pré-sal em 2006, o governo suspendeu os certames para discutir um novo modelo jurídico — a partilha. O resultado foi um hiato de cinco anos (2008–2013) sem novos leilões.
“A produção brasileira hoje poderia ser o dobro do que é. Esse período de paralisação foi uma das maiores atrocidades contra as gerações futuras”, afirmou Pires.
Durante esse período, os Estados Unidos avançaram significativamente na exploração de shale, impulsionando sua produção e tornando-se exportadores líquidos de petróleo.
Declínio do pré-sal e busca por novas fronteiras
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, o pré-sal — responsável por 80% da produção atual — deve começar a declinar nos próximos anos. A Bacia de Campos, explorada desde 1977, já está em fase de maturação. Por isso, o setor volta os olhos para novas fronteiras, como a Margem Equatorial, no norte do país, e a Bacia de Pelotas, no sul.
“Temos tecnologia e experiência. O pré-sal é reconhecido mundialmente como um sucesso. Agora precisamos avançar com essas novas áreas”, pontuou Ardenghy.
Ambiente regulatório e competitividade
Especialistas destacam a necessidade urgente de um ambiente regulatório mais competitivo, com mais previsibilidade, segurança jurídica e agilidade nas licenças ambientais. A falta de atratividade pode afastar investidores internacionais, especialmente em um momento em que países vizinhos, como a Argentina, ganham destaque na produção de shale.
Marco Tavares, CEO da Gas Bridge, destacou que a Argentina investiu em gás de xisto e hoje exporta 50% de sua produção, atraindo empresas globais.
“A segunda maior reserva de shale do mundo está na Argentina. Eles adotaram um modelo de mercado aberto e agora colhem os frutos”, afirmou.
Tavares também argumenta que o Brasil poderia reduzir significativamente o déficit na balança comercial da indústria química — que hoje ultrapassa US$ 40 bilhões — se investisse em gás mais barato e produção energética competitiva.
Impasses sobre o fraturamento hidráulico (fracking)
Uma das tecnologias responsáveis pelo sucesso do shale nos EUA é o fracking — técnica que utiliza água, areia e produtos químicos para extrair petróleo de rochas. Apesar de sua eficácia comprovada em vários países, a prática está proibida no Paraná desde 2019, e há uma ação do Ministério Público Federal contra sua adoção nacional.
“É uma tecnologia segura, dominada por países como EUA, China e Argentina. No Brasil, precisamos superar esse bloqueio legal para explorar nossas reservas sedimentares com shale”, defende Ardenghy.
Brasil ainda tem vantagens competitivas
Apesar dos desafios, especialistas concordam que o Brasil ainda tem potencial para manter-se como um player relevante no mercado internacional de petróleo, especialmente devido à sua posição geopolítica estável e à demanda crescente da Ásia e Europa por fornecedores confiáveis.
João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia, ressaltou a importância de diversificar os investimentos e garantir a autossuficiência.
“Temos que ampliar nossa agenda de leilões e atrair empresas estrangeiras. A demanda global por petróleo continua crescendo, e o Brasil pode se beneficiar disso se agir com estratégia e urgência”, concluiu.