quinta-feira, 7 - agosto 2025 - 10:23

Deputados de MT participam de 'rebelião' na Câmara por anistia de golpistas


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Deputados federais de Mato Grosso engrossaram o movimento de obstrução promovido por parlamentares bolsonaristas na Câmara dos Deputados, que culminou com a ocupação da Mesa Diretora desde a noite de terça-feira (5). O grupo exige que sejam pautados dois projetos polêmicos: a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e o fim do foro privilegiado. A mobilização, no entanto, tem travado a apreciação de pautas de interesse direto da população, como o projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até dois salários mínimos, por exemplo.

A pressão e o tumulto no plenário se intensificaram nesta quarta-feira (6), quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), finalmente abriu a sessão após horas de tensão. Nas redes sociais, parlamentares de Mato Grosso celebraram o que classificam como uma “vitória política”, ainda que temporária.

“Estamos desde ontem ocupando o plenário. Não teve sessão ontem e na de hoje também não foi votado nada. O presidente abriu e fechou a sessão no compromisso de trancar a pauta essa semana. Com isso, conseguimos obstruir tudo até que seja pautado o que nós achamos que é importante”, declarou o deputado Rodrigo da Zaeli (PL), em referência ao projeto de anistia. “Mais de 300 deputados assinaram o regime de urgência”, completou.

A deputada Coronel Fernanda (PL) foi na mesma linha. “A situação é tensa… Nós queremos a anistia porque muitas pessoas foram condenadas com penas altíssimas de forma injusta. Precisamos que nosso país volte à normalidade, respeitando o povo brasileiro”.

Já o deputado José Medeiros (PL) comemorou o suposto acordo com o presidente da Câmara: “Hoje à tarde chegou-se a um acordo de que ficou alinhado o PP, União Brasil, PL, junto com o presidente Hugo Motta, de pautar a anistia e o foro privilegiado”.

A mobilização foi marcada por cenas inusitadas e tensão política. A deputada de oposição Júlia Zanatta (PL-SC) permaneceu na ocupação com sua filha bebê no colo e admitiu que usava a criança como “escudo”. Uma imagem registrada no plenário mostra a deputada ao lado da mato-grossense Coronel Fernanda na Mesa Diretora.

Outro nome da bancada federal de Mato Grosso, a deputada Gisela Simona (União Brasil), optou por não participar diretamente da ocupação, mas permaneceu no plenário e transmitiu o clima de instabilidade por meio de lives. “É um momento importante sem tomar essa decisão e ficar com a pauta emperrada dentro do Congresso Nacional. É importante que se paute tudo aquilo que é necessário dentro dessa casa”, afirmou.

O deputado Coronel Assis (União) também engrossou o coro com gritos pela anistia. “A hora agora é de resistir. Esse movimento não é ilegal. Estamos usando nossa prerrogativa de parlamentar de promover obstrução. Aqui não tem bandido e vagabundo, tem político defendendo o direito do povo”.

No Senado, o senador Wellington Fagundes (PL) também participou das mobilizações da direita, alinhando-se aos colegas de Câmara. Dos parlamentares de Mato Grosso ligados ao bolsonarismo, apenas o deputado federal Nelson Barbudo (PL) não pôde permanecer na ocupação até o fim. Ele passou mal e precisou de atendimento médico.

“Infelizmente ontem precisei de atendimento médico e sigo em recuperação. […] Não pude estar presente nas mobilizações que a direita tem feito por liberdade e justiça, mas sigo firme no meu posicionamento”, afirmou nas redes sociais.

Pautas paralisadas

Enquanto a chamada “rebelião” toma conta do Congresso, outras matérias de interesse direto da população seguem travadas. Um dos principais exemplos é a votação da medida provisória que garante a correção na faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80. A medida, que precisa ser aprovada até segunda-feira (11), pode perder a validade caso não seja apreciada a tempo, penalizando milhares de brasileiros.

Compromisso nebuloso

Apesar das comemorações da oposição, o suposto acordo firmado com Hugo Motta tem contornos nebulosos. Segundo interlocutores, o presidente da Câmara apenas se comprometeu a não barrar as votações, desde que haja maioria entre os líderes para incluir os projetos na pauta.

A proposta de anistia pretende perdoar todos os acusados, condenados ou não, por participação nos atos golpistas de 2022 e 2023. Já a PEC do foro privilegiado visa revogar a atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite a manutenção de ações penais na Corte mesmo após o político deixar o cargo. A iniciativa quer garantir que os réus passem a responder na primeira instância da Justiça.

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