- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 31 , JULHO 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (9) anunciando a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA. A nova alíquota entrará em vigor a partir de 1º de agosto de 2025 e se aplica a todos os produtos, independentemente de tarifas setoriais já existentes.
No documento, divulgado por Trump em sua rede social Truth Social, o presidente norte-americano justificou a medida com duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à forma como o Brasil vem conduzindo o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado. Trump também citou ordens judiciais brasileiras contra apoiadores de Bolsonaro que vivem nos Estados Unidos.
“A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu Trump.
O presidente dos EUA acusou ainda o STF de violar a liberdade de expressão de cidadãos norte-americanos, ao emitir o que chamou de “ordens de censura secretas e ilegais” a plataformas de mídia social sediadas nos EUA. Segundo Trump, essas medidas levaram à imposição das tarifas, que também atingirão mercadorias transbordadas por outros países como tentativa de burlar a nova alíquota.
A carta foi enviada na mesma semana em que Lula e Trump trocaram críticas públicas devido à realização da cúpula do Brics no Rio de Janeiro. Trump chegou a ameaçar o bloco — que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — com sanções comerciais, o que agora se concretiza no caso brasileiro.
Em tom incisivo, Trump acusou o Brasil de manter uma relação comercial injusta com os Estados Unidos. “Tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”, afirmou.
Dados contrariam alegações de Trump
As alegações de Trump contrastam com dados oficiais do comércio bilateral. Em 2024, o fluxo comercial entre os dois países ultrapassou US$ 80 bilhões. A balança comercial, que considera a diferença entre exportações e importações, registra leve superávit de US$ 200 milhões em favor dos Estados Unidos.
Apesar disso, Trump reforçou o tom de ameaça e condicionou uma eventual flexibilização das tarifas a mudanças na postura do governo brasileiro. “Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos”, alertou. “Essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos.”
O presidente norte-americano ainda determinou a abertura de uma investigação formal sobre o que classificou como “ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas”.
Governo brasileiro estuda resposta
Até o momento, o Palácio do Planalto não respondeu oficialmente à carta. No entanto, o presidente Lula convocou uma reunião de emergência com seus principais ministros da área econômica e diplomática. Estiveram presentes o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Mais cedo, antes mesmo da divulgação da alíquota, Alckmin havia classificado como “injusta” qualquer iniciativa norte-americana de aumentar tarifas contra o Brasil. “O Brasil não é problema para os Estados Unidos. Essa medida prejudica a própria economia americana”, afirmou o vice-presidente.
O governo brasileiro avalia agora medidas diplomáticas e comerciais em resposta ao ataque, que foi classificado por fontes do Planalto como uma “ação política sem precedentes”.