terça-feira, 2 - setembro 2025 - 13:44

Escola dos EUA troca professores por IA e cobra R$ 18 mil mensais


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A Alpha School, localizada em Austin, no Texas (EUA), causou polêmica ao adotar um modelo educacional que substitui professores por inteligência artificial (IA). Com mensalidades a partir de R$ 18 mil, a escola oferece apenas duas horas diárias de aulas com foco em matérias básicas, como matemática e leitura, mediadas por um software de IA.

Fundada em 2014 pela organização sem fins lucrativos Legacy of Education, a instituição surgiu com apenas 16 alunos em uma casa alugada. Atualmente, conta com cerca de 250 alunos em dois campi em Austin e já expandiu para nove unidades em cidades como São Francisco (Califórnia) e Dallas (Texas). A previsão é abrir outras sete unidades até 2026, incluindo em Nova York e Dorado (Porto Rico).

A rotina na Alpha: IA, oficinas e empreendedorismo

Na Alpha, o ensino tradicional dá lugar a um modelo centrado no aluno. Fora as duas horas de ensino básico, o restante do dia é preenchido com oficinas práticas e atividades diversas. Essas incluem desde debates sobre a história da Itália acompanhados por degustações de pizza, até experiências com luvas de nitrilo para simular o trabalho de cientistas de engenharia de alimentos.

Os estudantes são incentivados a desenvolver habilidades como empreendedorismo, comunicação e finanças pessoais. O modelo não segue séries convencionais; os alunos progridem conforme o próprio ritmo. A escola afirma que, com esse método, aprendem até 2,6 vezes mais rápido que em escolas tradicionais.

“Você não fica preso ao ritmo da turma ou ao que o professor está ensinando”, disse Byron Attridge, de 12 anos, aluno da Alpha há quatro anos, ao The New York Times. Ele já estaria no nível de matemática equivalente ao oitavo ano.

Profissionais são ‘guias’, não professores

Em vez de professores, a Alpha emprega “guias”, adultos que acompanham os alunos durante as atividades, mas não têm a função de ministrar conteúdo. Esses profissionais recebem salários superiores a US$ 100 mil por ano (cerca de R$ 545 mil anuais ou R$ 45 mil mensais).

Os conteúdos são apresentados em workshops, nos quais os estudantes trabalham os três pilares do modelo Alpha: coragem, criatividade e adaptabilidade — características consideradas essenciais para enfrentar desafios do mundo real.

Admissão rigorosa e investimento elevado

O processo de admissão à Alpha é composto por três etapas. A primeira é o “Showcase”, uma apresentação institucional voltada a famílias interessadas. Em seguida, os responsáveis devem preencher um formulário com informações do aluno e pagar uma taxa de US$ 100 (R$ 544), não reembolsável.

Entre os documentos exigidos estão histórico escolar, dados médicos, formulários de consentimento para captação de imagem e uso de dados, e um termo de isenção de responsabilidade.

Na última etapa, o candidato participa de um “Shadow Day” — uma espécie de dia de teste na escola, onde tem contato com os softwares de IA e participa de oficinas. Após isso, um comitê analisa a candidatura e, caso aprovada, a matrícula é formalizada mediante o pagamento de uma taxa de US$ 1.000 (R$ 5.440), que é abatida do valor da anuidade, que chega a US$ 40 mil (cerca de R$ 218 mil por ano).

Críticas ao modelo: excesso de tecnologia e risco de defasagem

O modelo inovador da Alpha School tem enfrentado críticas de educadores e associações ligadas à educação. Um dos principais pontos levantados é a possível perda do pensamento crítico e da socialização, já que os alunos interagem predominantemente com máquinas e passam pouco tempo em contato com conteúdos essenciais.

Também preocupa o tempo excessivo de exposição às telas e o risco de “robotização” dos estudantes, que seriam treinados a superar desafios da IA em vez de construir conhecimento em profundidade. Outro ponto controverso é a falta de dados concretos sobre o sucesso de egressos em universidades tradicionais.

Alguns estados americanos, como a Pensilvânia, já rejeitaram o modelo Alpha, alegando que ele ainda não é testado o suficiente e que pode comprometer a transição dos alunos para escolas com currículos convencionais.

Além disso, o fato de a escola não empregar professores levanta dúvidas sobre a qualificação dos “guias” para lidar com alunos em diferentes estágios de desenvolvimento cognitivo e emocional.

“Educação como campo de batalha global”

A cofundadora da Alpha, a influenciadora e podcaster Mackenzie Price, defende o modelo com entusiasmo. Ela descreve a sala de aula tradicional como “o novo campo de batalha global” e acredita que a personalização via IA é o futuro da educação.

A proposta da Alpha se insere em um movimento global de reavaliação dos métodos de ensino, mas, por enquanto, segue cercada de polêmica sobre sua efetividade e aplicabilidade em larga escala.

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