Com 35,65% das obras concluídas até abril de 2025, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) já começa a transformar a paisagem em Mato Grosso. O empreendimento é uma das principais promessas para impulsionar o escoamento de grãos no estado e reduzir a dependência do transporte rodoviário na ligação entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT).

A FICO é fruto de um modelo inovador de parceria público-privada. Ela surgiu a partir da renovação antecipada do contrato da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) com a mineradora Vale, firmada em 2020, sob mediação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Como contrapartida à prorrogação do contrato, a Vale assumiu o compromisso de investir R$ 10,2 bilhões na construção da ferrovia. O projeto tem prazo de conclusão até 2028 e já conta com 240 quilômetros em frentes de trabalho ativas.

“Essa é uma entrega concreta do Estado brasileiro à sociedade. Estamos falando de uma ferrovia que vai impulsionar o desenvolvimento regional, reduzir custos logísticos, aliviar rodovias e contribuir para uma matriz de transporte mais limpa e eficiente”, destacou Guilherme Theo Sampaio, diretor-geral da ANTT.

O traçado da FICO beneficiará diretamente onze municípios mato-grossenses, conferindo mais competitividade ao agronegócio local, especialmente na exportação de soja, milho e algodão.

Avanço da obra e números expressivos

De acordo com a ANTT, já foram contratados mais de R$ 4,2 bilhões em serviços, com 292 quilômetros de traçado autorizados e em execução. Até agora, foram movimentados 14 milhões de metros cúbicos de escavação e 9,2 milhões de metros cúbicos de aterro. As sondagens geotécnicas estão 99% concluídas. A fiscalização, sob responsabilidade da Infra S.A., contabiliza mais de 50 mil inspeções técnicas, com 89% de assertividade e 2.082 solicitações encerradas.

“Já é possível perceber, com clareza, a transformação no território. A FICO já imprime progresso visível tanto em áreas rurais quanto urbanas ao longo do seu traçado”, observou Sampaio.

Compromisso socioambiental

Além do impacto estrutural, a ferrovia também é referência em boas práticas socioambientais. A madeira nativa, tradicionalmente usada em dormentes, foi substituída por madeira reflorestada. Técnicas de drenagem foram otimizadas para evitar desperdícios, sem comprometer a segurança da infraestrutura.

Até o momento, 154 licenças ambientais foram emitidas, e quase 230 disputas fundiárias foram resolvidas por meio de mutirões de conciliação, resultando em 364 quilômetros de faixa ferroviária liberada, com 98,8% de adesão ao cronograma.

Embora ainda haja desafios — como homologações ambientais pendentes e trechos com interferências elétricas —, o diretor-geral da ANTT ressalta a atuação coordenada entre Vale, Infra S.A. e ANTT para mitigar riscos e manter o cronograma em dia.

Impacto estratégico para Mato Grosso

Para o estado, a FICO vai muito além da infraestrutura. Líder nacional na produção de grãos, Mato Grosso verá na ferrovia uma alternativa para reduzir o fluxo pesado nas rodovias, diminuir o tempo de escoamento da safra e baixar os custos logísticos — fatores que impactam diretamente na competitividade do setor agrícola.

O projeto também traz ganhos ambientais relevantes. A substituição do modal rodoviário pelo ferroviário pode reduzir em até 40% os custos de transporte e em até 70% as emissões de CO₂, segundo especialistas em logística e sustentabilidade.

A presença da obra também já movimenta a economia local. Municípios como Água Boa, Canarana e Nova Xavantina têm recebido novos investimentos, empregos diretos, e vivem a expectativa de crescimento econômico a médio prazo. A ferrovia também impulsiona a expansão urbana planejada e incentiva a chegada de serviços essenciais às regiões impactadas.

“A FICO representa o símbolo de uma nova era para o transporte ferroviário no Brasil, com planejamento, responsabilidade social e compromisso com o futuro”, finalizou Sampaio.