- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


Durante depoimento ao Tribunal do Júri, nesta quinta-feira (18), Wendel dos Santos Silva, acusado de matar a facadas sua noiva Leidiane Ferro da Silva, em abril de 2024, em Peixoto de Azevedo (MT), tentou justificar o crime alegando ter sido constantemente humilhado pela vítima ao longo dos cinco anos de relacionamento. O julgamento ocorre na Segunda Vara Criminal da comarca do município, sob presidência do juiz João Zibordi Lara.
O réu falou por cerca de 45 minutos, inicialmente respondendo às perguntas da promotora de Justiça Andreia Monte Alegre Bezerra de Menezes, que conduziu a oitiva detalhando os fatos ocorridos no dia 14 de abril, data do crime.
Segundo o relato de Wendel, o casal havia decidido se separar e, ao pedir de volta as alianças, Leidiane teria se recusado a devolvê-las. Afirmou que ela teria dito que “cada um poderia usar com quem quisesse, porque foi ela quem pagou”. Em seguida, ele a atacou com uma faca. Questionado sobre os momentos seguintes ao crime, Wendel declarou apenas: “Só lembro de ter pegado a faca.”
Publicações após o crime
Após cometer o feminicídio, Wendel utilizou suas redes sociais para ofender a vítima e criticar a Lei Maria da Penha. A promotora leu em plenário uma das mensagens publicadas pelo réu, confirmada por ele:
“Essa maldita lei que defende as mulheres para ficar humilhando os homens. As vagabundas traem e o homem tem que ficar calado, porque se fala alto com elas, elas mandam prender. Pois agora vocês vão me prender morto, lei desgraçada. Essa vagabunda que eu fazia tudo por ela, e ainda vinha e me chamava de doente, porque eu só pedia para ela não pisar na bola comigo”.
Além disso, Wendel enviou mensagens ofensivas a uma amiga da vítima, Ana Paula Carvalho Silva, responsabilizando-a pela tragédia.
“Oi, vagabunda. Está satisfeita agora? Você vivia chamando ela para sair para se bronzear”, escreveu.
Culpabilização da vítima
Ao longo de seu depoimento, Wendel tentou reiteradamente atribuir à vítima a responsabilidade pelo crime, alegando sofrer violência psicológica no relacionamento. Disse que Leidiane o humilhava por sua condição financeira inferior e por não contribuir com as despesas da casa, e afirmou que isso o impedia de “dar palpites” sobre a vida da companheira.
Contudo, a promotora confrontou essa versão. Conforme o Ministério Público, dois meses antes do crime, Wendel aplicou um golpe conhecido como “mata-leão” em Leidiane. Ele também possui antecedentes por violência doméstica envolvendo outras mulheres com quem se relacionou — fatos confirmados pelo próprio réu durante o interrogatório.
Ao final, a promotora questionou por que o réu não havia encerrado o relacionamento, já que alegava tanto sofrimento:
“O senhor só narrou fatos contrários à vítima, que não está mais aqui para se defender. Por que não deu fim a esse relacionamento, se era tão abusivo? Por que ficou cinco anos com ela, até matá-la a facadas?”, disse Andreia Monte Alegre.
Crime registrado por câmeras
O feminicídio foi registrado por câmeras de segurança instaladas na residência do casal. As imagens mostram o réu andando entre a cozinha e outro cômodo, enquanto Leidiane está em pé, ao lado da filha de Wendel, Ketlin Jacqueline Cozer Silva, que se encontra sentada à mesa.
Em determinado momento, após uma breve troca de palavras, Leidiane se dirige ao fogão para servir comida. Wendel, então, retorna à cozinha com o dedo em riste, pega uma faca e a golpeia pelas costas, próximo à nuca. A vítima cai ao chão, e o réu ainda afugenta o filho de Leidiane, que também estava na casa, antes de desferir outros golpes fatais.
Veja trecho da audiência: