quarta-feira, 23 - julho 2025 - 15:55

Hospital de Gaza diz que 21 crianças morreram de desnutrição e fome em 72 horas


Reprodução
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Um hospital da Faixa de Gaza informou, nesta terça-feira (22), que 21 crianças morreram por desnutrição e fome nos últimos três dias, em meio à intensificação das operações militares israelenses contra o Hamas. A tragédia ocorre mesmo diante de inúmeros apelos internacionais pelo fim do conflito. Cerca de 2,4 milhões de habitantes enfrentam grave escassez de alimentos e itens essenciais, enquanto centros de distribuição de ajuda humanitária seguem sendo alvos frequentes de ataques.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, desde o fim de maio, mais de mil pessoas foram mortas em Gaza enquanto tentavam obter ajuda alimentar. “Até 21 de julho, registramos 1.054 mortos. Desses, 766 morreram perto das instalações da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) e 288 próximos a comboios da ONU e de outras organizações humanitárias”, afirmou o órgão.

O diretor do Hospital Al-Shifa, Mohamed Abu Salmiya, detalhou que as mortes infantis ocorreram nas unidades Al-Shifa (Cidade de Gaza), Mártires de Al-Aqsa (Deir al-Balah) e Naser (Khan Yunis), no sul do território. “Vinte e uma crianças morreram por fome e desnutrição em diferentes regiões da Faixa de Gaza nas últimas 72 horas”, disse o médico, em entrevista coletiva.

No Hospital Naser, imagens registradas pela imprensa mostraram pais em luto sobre o corpo esquelético de Abdul Jawad al Ghalban, de 14 anos, uma das vítimas da fome. O garoto foi envolvido em um saco branco para cadáveres logo após sua morte.

Ataques continuam e ampliam tragédia

Ainda nesta terça, a Defesa Civil de Gaza anunciou que 15 pessoas morreram em bombardeios israelenses, sendo 13 no campo de refugiados de Al-Shati, no norte, onde milhares de deslocados estão abrigados. Entre os relatos, Raed Bakr, de 30 anos, contou que sua barraca foi atingida durante a madrugada. “Achei que estava em um pesadelo. Fogo, poeira, fumaça e restos humanos voando. As crianças gritavam”, disse o homem, que perdeu a esposa em um ataque no ano passado.

Outras duas mortes foram confirmadas em Deir al-Balah, no centro da Faixa, onde o Exército de Israel havia anunciado recentemente a ampliação das operações e orientado a evacuação da população. Em nota, os militares afirmaram que responderam a disparos feitos contra soldados na região.

Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), entre 50 mil e 80 mil pessoas estavam na área de Deir al-Balah no momento dos ataques. A ONU estima que 88% da Faixa de Gaza já esteja sob ordens de evacuação ou declarada como zona militar por Israel.

Reações internacionais e denúncias de abusos

O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, classificou a situação em Gaza como “moralmente inaceitável” após visitar o território. “Vimos homens esperando sob o sol durante horas, na esperança de conseguir uma simples refeição”, relatou.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, também alertou para o risco “extremamente alto” de violações graves do direito internacional, diante da escalada das ações militares.

Na segunda-feira (21), o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, denunciou que militares israelenses invadiram as residências de funcionários da agência da ONU em Deir al-Balah. Segundo ele, mulheres e crianças foram forçadas a deixar o local a pé, enquanto os homens foram “algemados, despidos, interrogados e mantidos sob a mira de armas”.

Nesta terça, o governo francês pediu acesso irrestrito da imprensa internacional à Faixa de Gaza. “Exigimos que a imprensa livre e independente possa entrar para mostrar o que está acontecendo”, disse o ministro das Relações Exteriores, François Barrot. Ele destacou que vários colaboradores de veículos jornalísticos enfrentam uma “situação terrível” no território, incluindo jornalistas da AFP.

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