segunda-feira, 5 - maio 2025 - 14:47

Lula viaja à Rússia para tentar mediar paz e reforçar independência diplomática


Putin e Lula
Putin e Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca nesta terça-feira (7) para Moscou, onde cumpre agenda oficial no fim da semana. A viagem tem dois objetivos principais, segundo fontes do governo brasileiro: reforçar a tentativa do Brasil de atuar como mediador no conflito entre Rússia e Ucrânia e sinalizar a independência da política externa brasileira diante das grandes potências mundiais.

Durante a visita, Lula terá um encontro bilateral com o presidente russo, Vladimir Putin, e participará das comemorações do Dia da Vitória, celebrado em 9 de maio, data que marca o triunfo soviético sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. O presidente brasileiro acompanhará o tradicional desfile militar na Praça Vermelha, ao lado de líderes como Nicolás Maduro (Venezuela) e Miguel Díaz-Canel (Cuba), mas sem a presença de chefes de Estado ocidentais, ausentes por orientação da Comissão Europeia devido à guerra em curso.

A confirmação da visita gerou desconforto com o governo ucraniano. O presidente Volodymyr Zelensky considera que os gestos diplomáticos de Lula em direção à Rússia comprometem a neutralidade brasileira. Na semana passada, o embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, esteve no Palácio do Planalto e convidou Lula a visitar Kiev, mas foi recebido apenas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Ainda assim, a expectativa é que Lula defenda junto a Putin a participação do Brasil como interlocutor nas negociações de paz. Como atual presidente do Brics — grupo que inclui também Rússia, China, Índia e África do Sul, além de outros países emergentes —, o Brasil passou a propor que o bloco atue conjuntamente em uma futura mediação.

Na semana passada, Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, afirmou em discurso a conselheiros de segurança dos países do Brics que mediação e prevenção de conflitos não devem ser exclusividade das grandes potências. O grupo inclui ainda Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Enquanto os EUA, sob a liderança do ex-presidente Donald Trump, continuam buscando diálogo com as partes em conflito, o governo brasileiro considera que Moscou tem demonstrado maior abertura às tratativas. Em 2023, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta de cessar-fogo baseada em três princípios: evitar a expansão dos combates, reduzir a escalada militar e manter canais diplomáticos abertos.

Além da agenda política, Lula discutirá temas econômicos com Putin. O comércio bilateral entre Brasil e Rússia alcançou US$ 12,4 bilhões em 2024, com um déficit de US$ 9,5 bilhões para o lado brasileiro — impulsionado principalmente pelas importações de diesel e fertilizantes. O objetivo do governo brasileiro é ampliar os investimentos e reequilibrar essa balança.

Para Angelo Segrillo, professor de História da USP e especialista em Rússia, a presença de Lula na cerimônia do Dia da Vitória seria corriqueira em outro contexto, mas hoje reflete uma postura mais estratégica. “O presidente Lula não quer se alinhar a um único campo. Busca manter boas relações com o Ocidente, mas também não quer perder o trem do futuro representado pelos Brics, pela China e pela própria Rússia”, avalia.

+