- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


GAZA — Milhares de palestinos deslocados começaram a retornar às suas casas nesta sexta-feira (10), após a entrada em vigor do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que levou à retirada parcial das tropas israelenses de algumas regiões da Faixa de Gaza. A trégua foi ativada ao meio-dia, no horário local (6h de Brasília), após aprovação do governo israelense nas primeiras horas do dia.
Colunas de civis caminhavam em meio à poeira e escombros, especialmente em direção à Cidade de Gaza — a maior área urbana do enclave e alvo de intensos bombardeios nos últimos dias. Muitos encontraram suas casas destruídas ou completamente arrasadas.
“Graças a Deus, minha casa ainda está de pé”, disse Ismail Zayda, 40, morador do bairro Sheikh Radwan. “Mas o lugar está destruído. As casas dos meus vizinhos foram todas demolidas. Bairros inteiros desapareceram.”
Acordo prevê troca de reféns e liberação de prisioneiros
O cessar-fogo faz parte da primeira fase de um plano proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar a guerra que já dura dois anos. O acordo prevê:
Libertação de 20 reféns israelenses vivos mantidos pelo Hamas em até 72 horas;
Em troca, Israel libertará 250 prisioneiros palestinos que cumprem longas penas e outros 1.700 detidos em Gaza durante a guerra;
Entrada de ajuda humanitária e alimentos para civis em Gaza;
Retirada parcial das forças israelenses de áreas urbanas, embora Israel ainda mantenha controle sobre parte significativa do território.
Durante a trégua, caminhões com alimentos e suprimentos médicos começaram a entrar no enclave, onde centenas de milhares de pessoas vivem atualmente em barracas improvisadas, após perderem suas casas.
Netanyahu defende permanência militar: “Desmilitarizar Gaza”
Embora o cessar-fogo esteja em vigor, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reforçou que as forças israelenses permanecerão em Gaza, com o objetivo de garantir a desmilitarização do território e o desarmamento do Hamas nas próximas etapas do plano.
“Se isso puder ser alcançado da forma mais fácil, será bom. Se não, será alcançado da forma mais difícil”, declarou Netanyahu em pronunciamento televisionado.
Apesar da retirada de tropas de regiões como Khan Younis e do campo de refugiados de Nusseirat, moradores relataram movimentação militar e explosões de tanques em algumas áreas, o que demonstra que a situação ainda é instável.
População celebra retorno, mesmo entre ruínas
Para muitos palestinos, o retorno à Cidade de Gaza representa um alívio, mesmo diante da destruição generalizada.
“Assim que ouvimos sobre a trégua, nos alegramos e começamos a voltar. Claro que não há mais casas — foram destruídas”, disse Mahdi Saqla, 40. “Mas estamos felizes só por voltar ao local onde elas estavam. Mesmo que seja para viver sobre os escombros, isso também é uma forma de alegria.”
Conflito abalou região e isolou Israel internacionalmente
A guerra, iniciada há dois anos após ataques do Hamas, já deixou mais de 67 mil palestinos mortos e provocou tensões geopolíticas na região, com envolvimento de países como Irã, Iêmen e Líbano. Também causou desgaste nas relações entre Estados Unidos e Israel, com Donald Trump pressionando Netanyahu por uma solução negociada.
“O Brasil não quer brigar com ninguém”, teria dito Lula, em outro contexto nesta sexta, refletindo o clima de expectativa internacional por uma resolução pacífica no Oriente Médio.
O líder exilado do Hamas em Gaza, Khalil Al-Hayya, afirmou que recebeu garantias dos EUA e de mediadores internacionais de que a guerra chegou ao fim. A expectativa é de que a libertação dos reféns vivos seja rápida, mas a recuperação dos corpos dos mortos poderá levar mais tempo.
Atualmente, estima-se que 20 reféns israelenses estejam vivos em Gaza. Outros 26 foram confirmados como mortos, enquanto o paradeiro de dois permanece desconhecido.