segunda-feira, 30 - junho 2025 - 19:02

Ofensiva russa perde força, mas guerra seguirá até 2026


Russia Ucrania
Russia Ucrania

Após meses de expectativas sobre uma nova ofensiva russa para tomar territórios no leste da Ucrânia, autoridades ocidentais e analistas observam um cenário mais contido. Apesar de não haver um avanço massivo, tropas russas continuam a pressionar pontos estratégicos ao longo da extensa linha de frente, enquanto a guerra adquire contornos cada vez mais tecnológicos, sobretudo com o uso massivo de drones.

Avanços limitados e resistência ucraniana

O presidente russo, Vladimir Putin, mantém seu discurso de que Rússia e Ucrânia são “um só povo” e voltou a afirmar que “toda a Ucrânia é nossa”, justificando, segundo ele, os objetivos territoriais da guerra. Ainda assim, a esperada “ofensiva de verão” não se concretizou como planejado.

Autoridades ucranianas afirmam que a ofensiva russa vem perdendo força. O comandante-chefe Oleksandr Syrskyi informou que 111 mil soldados russos estão concentrados em apenas um trecho da linha de frente, que se estende por cerca de 1.200 quilômetros. Um dos pontos mais tensos é a cidade de Pokrovsk, na província de Donetsk, com cerca de 50 confrontos diários.

Na região norte de Sumy, a infiltração russa foi contida, segundo o Exército ucraniano. O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), dos EUA, confirmou a desaceleração russa e ganhos ucranianos na área. “Podemos dizer que a ofensiva do inimigo está fracassando”, disse Syrskyi.

Ataques localizados e guerra assimétrica

Apesar do enfraquecimento em algumas frentes, Moscou obteve avanços recentes na divisa entre Donetsk e Dnipropetrovsk. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a tomada da vila de Zirka. O grupo ucraniano DeepState alertou que, nessa região, as defesas do país estão sob forte pressão, com perdas territoriais significativas.

O Kremlin reforça que não recuará enquanto não tiver pleno controle sobre as regiões de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Atualmente, a Rússia já ocupa quase toda Luhansk, exceto uma pequena área.

Conflito prolongado e drones como protagonistas

Diante do cenário militar e da menor disposição dos EUA — sob a gestão de Donald Trump — em mediar um cessar-fogo, analistas projetam que o conflito se estenderá até, pelo menos, o fim de 2026. A guerra tem sido marcada por operações inovadoras com drones e confrontos terrestres rudimentares.

A Ucrânia tem adotado táticas mais ágeis e ataques ousados, como a destruição de bombardeiros russos em território inimigo, utilizando drones lançados de caminhões. No sábado (28), um novo ataque danificou uma base aérea russa na Crimeia.

Enquanto isso, soldados russos realizam incursões com motos ou a pé em vilarejos abandonados, com apoio de drones e sem veículos blindados, obrigando a Ucrânia a reorganizar suas defesas com posições menores e camufladas.

Corrida por drones e saturação das defesas

Ambos os lados intensificam a produção e uso de drones. Os russos fabricam até 200 unidades Shahed por dia, e segundo Kiev, possuem cerca de 6 mil prontos para uso. Só na última semana, mais de 23 mil drones kamikazes foram usados nas linhas de frente, segundo o Estado-Maior ucraniano.

O presidente Volodymyr Zelensky afirmou que, só na noite de domingo (29), 477 drones e 60 mísseis atacaram cidades ucranianas. Ele voltou a pedir mais baterias de mísseis Patriot e outros sistemas de defesa aérea ao Ocidente. O ministro da Defesa, Rustem Umerov, alertou que os russos chegam a lançar até 500 drones por noite, com o objetivo de esgotar as defesas ucranianas.

Umerov também afirmou que “milhares” de drones de longo alcance serão produzidos este ano para atacar infraestrutura estratégica russa. A meta é fabricar mais de quatro milhões de drones para uso no campo de batalha.

Pressões econômicas e riscos para a Rússia

O conflito prolongado já impõe grandes custos à economia russa. A estatal Rostec, que produz 80% dos armamentos usados no front, aumentou sua produção em dez vezes desde 2021, com receita anual estimada em US$ 46 bilhões.

Porém, esse esforço bélico tem impacto direto nas contas públicas. O orçamento militar representa cerca de 40% dos gastos do governo e mais de 6% do PIB. A inflação aumentou, e o presidente Putin reconheceu que o crescimento será “mais modesto”. Ele também sugeriu uma possível redução nos gastos militares em 2026.

O ministro do Desenvolvimento Econômico, Maksim Reshetnikov, alertou para sinais de recessão. Já a presidente do Banco Central russo, Elvira Nabiullina, afirmou que fundos de reserva estão quase esgotados.

Conclusão

Apesar dos altos custos humanos e econômicos, Putin segue apostando em uma guerra de desgaste. Com recursos ainda disponíveis e forças numerosas, a Rússia tenta garantir pequenos avanços territoriais. A Ucrânia, por sua vez, intensifica o uso de drones e reforça sua indústria militar, apostando na inovação tática e no apoio internacional.

Enquanto a guerra se transforma em uma disputa tecnológica e estratégica de longo prazo, uma solução diplomática permanece distante — com ambos os lados determinados a continuar.

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