- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 10 , JULHO 2025
As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, anunciadas nesta quarta-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repercutiram fortemente não apenas no Brasil, mas também dentro dos EUA. O economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2008 e colunista do The New York Times, classificou a medida como “diabólica e megalomaníaca” e afirmou que não há qualquer justificativa econômica para a decisão.
“Eu não costumo fazer postagens noturnas, mas a última carta de Trump, impondo tarifas de 50% ao Brasil, merece um boletim especial. Afinal, é diabólica e megalomaníaca”, escreveu Krugman em seu blog pessoal, na noite de quarta-feira. O artigo foi intitulado Programa de Trump de Proteção a Ditadores, com o subtítulo: Usando tarifas para combater a democracia.
O economista afirmou que a medida é uma tentativa direta de pressionar o governo brasileiro a poupar o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Note que Trump mal finge ter uma justificativa econômica para sua ação. Trata-se de punir o Brasil por julgar Jair Bolsonaro”, apontou.
Comparações com o Capitólio
Krugman também traçou paralelos entre Bolsonaro e Trump, ao lembrar que ambos tentaram reverter os resultados das eleições que perderam. O economista relembrou a invasão do Capitólio, em 2021, promovida por apoiadores de Trump após sua derrota para Joe Biden. Os envolvidos foram condenados em 2023, mas já receberam perdão presidencial no início do segundo mandato de Trump.
“Bolsonaro é o ex-presidente do Brasil que perdeu a última eleição, mas tentou se manter no poder por meio de um golpe para reverter aquele resultado. Claro que soa familiar”, ironizou Krugman.
Trump quer “proteger aliados”
Na carta enviada ao governo brasileiro, Trump demonstrou preocupação com o julgamento de Bolsonaro e acusou o Brasil de perseguir um “líder respeitado”.
“A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu o presidente norte-americano.
Para Krugman, as ações de Trump evidenciam um comportamento autoritário, ao usar mecanismos do comércio internacional como instrumentos políticos.
“Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro projeto de ditador. Se você ainda pensa nos Estados Unidos como um dos mocinhos do mundo, isso deve te mostrar de qual lado estamos atualmente”, criticou.
Comércio com os EUA é secundário, diz Krugman
O economista também destacou que a tentativa de pressionar o Brasil via tarifas é ineficaz, pois os Estados Unidos não são o principal parceiro comercial do país. Citando dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2022, Krugman lembrou que a China responde por 26,8% das exportações brasileiras, enquanto os EUA representam apenas 11,4%.
“Trump realmente acredita que pode intimidar uma nação gigante, que nem sequer é tão dependente do mercado americano, a abandonar a democracia?”, questionou.
Base para impeachment
Ao final do texto, Krugman sugeriu que a manobra contra o Brasil poderia, inclusive, fundamentar um processo de impeachment contra Trump, caso os Estados Unidos ainda mantenham uma “democracia funcional”.
“Como eu disse: diabólico e megalomaníaco. Se ainda temos uma democracia funcional, essa jogada com o Brasil poderia ser motivo para impeachment. Claro, isso deveria esperar na fila, atrás de outros argumentos”, concluiu.