- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 27 , NOVEMBRO 2025


Uma prática curiosa — e nada inofensiva — tem chamado atenção nas redes sociais: o peegasm. O termo, uma fusão de “pee” (urinar) e “orgasm” (orgasmo), descreve a sensação de prazer intenso que algumas pessoas, especialmente com vulva, dizem sentir ao segurar a urina por muito tempo e, só depois, finalmente liberar o jato no banheiro. Aparentemente inusitado, o fenômeno tem explicação fisiológica, mas também consequências graves para a saúde.
“A bexiga cheia pode estimular a parte neural da região do assoalho pélvico, que está muito próxima do clítoris e da uretra. Isso pode gerar uma sensação prazerosa”, explica Francielly Paiva, especialista em reabilitação do assoalho pélvico.
A sensação descrita como semelhante a um orgasmo, não é fruto da imaginação. Segundo o urologista João Ricardo Alves, o que acontece é uma sobrecarga dos nervos pélvicos, responsáveis tanto pela micção quanto pela resposta sexual.
“Quando a bexiga está muito cheia, ela pressiona terminações nervosas da região pélvica. Esses nervos fazem parte do mesmo circuito neurológico envolvido no prazer sexual. Quando a pessoa urina, há um alívio intenso que o cérebro pode interpretar como prazer”, detalha o médico.
Só que esse prazer vem com um custo. Segundo os especialistas, reter urina de forma proposital e repetida pode trazer sérias consequências, que vão além de um simples desconforto momentâneo.
“Essa prática pode causar infecções urinárias, dor pélvica, inflamações crônicas, distensão da bexiga e até comprometer o esvaziamento completo da urina”, alerta João Ricardo.
O problema do peegasm não para por aí. De acordo com Francielly Paiva, o hábito de segurar o xixi sobrecarrega o assoalho pélvico — grupo de músculos essenciais para o controle da bexiga e dos órgãos reprodutivos.
“Com o tempo, a bexiga vai se distendendo e acumulando mais urina do que deveria. Isso gera uma pressão contínua sobre a musculatura pélvica, favorecendo quadros de incontinência urinária”, explica a fisioterapeuta.
Para ela, o caminho é investir em hábitos mais saudáveis: urinar com regularidade, evitar reter por longos períodos e praticar exercícios específicos para fortalecer o assoalho pélvico.
Apesar da semelhança com o prazer sexual, os especialistas reforçam que o peegasm não é um tipo de orgasmo. A resposta fisiológica é bem diferente, e os efeitos no corpo, também.
“O orgasmo verdadeiro envolve contrações musculares rítmicas e liberação de hormônios como oxitocina e endorfina. No peegasm, o que ocorre é apenas uma estimulação nervosa indireta — sem os mesmos benefícios fisiológicos e com riscos consideráveis”, explica João Ricardo Alves.
A vontade de urinar não é algo para ser ignorado ou controlado por prazer. É um aviso do corpo de que algo precisa ser eliminado. Postergar esse processo por busca de excitação pode parecer inofensivo, mas é um jogo perigoso.
“Precisamos desmistificar a ideia de que sentir prazer com isso é algo inofensivo. A orientação é clara: responda ao chamado do corpo e preserve sua saúde urinária”, conclui Francielly Paiva.