- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 10 , JULHO 2025
A Petrobras tem enfrentado dificuldades para preencher vagas em suas operações, especialmente por meio de empresas terceirizadas, e aposta em parcerias para qualificar mão de obra e atrair de volta profissionais que deixaram o setor. Muitos desses trabalhadores migraram para ocupações informais, como motoristas de aplicativos.
A situação foi detalhada nesta quinta-feira (3) pela presidente da estatal, Magda Chambriard, e por diretores da companhia, durante apresentação à imprensa do plano de investimentos de mais de R$ 33 bilhões no setor de refino e na indústria petroquímica do Rio de Janeiro até 2029.
“Já estamos em uma fase de pleno emprego. Estão faltando eletricistas, caldeireiros, soldadores — todo esse arsenal de profissionais que mobilizamos para nossas operações”, afirmou Chambriard.
O pacote prevê a geração de 38 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, atividades de manutenção devem criar mais de 100 mil postos de trabalho.
Embora os investimentos anunciados estejam concentrados no Rio de Janeiro, a presidente ressaltou que a escassez de mão de obra qualificada é percebida também em outros estados.
Pleno emprego e mudança de perfil
O cenário descrito por Chambriard é respaldado por dados recentes. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE em 27 de junho, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio de 2025 ficou em 6,2% — o menor índice para o período desde o início da série histórica, em 2012, e próximo ao menor já registrado (6,1%), no trimestre encerrado em novembro de 2024. A pesquisa também apontou o menor número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) desde 2016.
A diretora-executiva de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Renata Baruzzi, classificou o cenário como “uma dificuldade boa”, por demonstrar a retomada da atividade econômica e a escassez de trabalhadores qualificados.
Baruzzi destacou que muitos profissionais especializados, como soldadores e operadores de equipamentos, deixaram o setor por falta de oportunidades e recorreram a atividades como transporte por aplicativo. A estatal, segundo ela, está tentando reverter esse movimento.
“Muita gente foi para o Uber. Agora, estamos trabalhando para trazer esse pessoal de volta para as obras. Algumas empresas já nos informaram que profissionais qualificados estão retornando”, disse.
Qualificação e formalização
A Petrobras também busca ampliar a qualificação da mão de obra por meio do programa Autonomia e Renda, que oferece capacitação para beneficiários do Bolsa Família. Uma das parcerias firmadas é com a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
“A ideia é tirar essas pessoas da dependência do Bolsa Família, para que possam trabalhar não só nas obras, mas também nas paradas de manutenção nas refinarias”, explicou Baruzzi.
A estatal reforçou que uma das exigências para as empresas terceirizadas é a contratação com carteira assinada e plano de saúde, destacando os benefícios do emprego formal.
Salários atrativos
O diretor executivo de Processos Industriais e Produtos da Petrobras, William França, classificou o plano de investimentos como “gerador intensivo de mão de obra”. Ele ressaltou que os salários oferecidos nas obras de manutenção são elevados, dada a especialização exigida.
“Um bom inspetor de solda pode receber cerca de R$ 10 mil mensais. Um planejador qualificado, com domínio de software, pode ultrapassar os R$ 25 mil. Em alguns casos, os salários chegam a mais de R$ 30 mil”, afirmou.
Segundo França, os valores são compatíveis com a exigência técnica das funções: “Estamos falando de mecânicos, soldadores, inspetores, profissionais especializados em guindastes, controle de máquinas e elevação de cargas. É gente altamente qualificada, e estamos precisando desse perfil porque estamos investindo pesado.”