- CUIABÁ
- SÁBADO, 2 , AGOSTO 2025
Antes mesmo das recentes declarações de Donald Trump, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já avaliavam a possibilidade de um encontro entre os dois líderes durante a Assembleia Geral da ONU, marcada para a segunda semana de setembro, em Nova York. Embora ainda seja tratada apenas como hipótese, a ideia é vista no Palácio do Planalto como uma oportunidade diplomática em terreno neutro, longe dos holofotes do Salão Oval da Casa Branca.
Segundo interlocutores do governo, um eventual encontro entre Lula e Trump exigiria organização meticulosa e disposição mútua, mas o alívio parcial no pacote tarifário anunciado recentemente pelos Estados Unidos — que excluiu mais de 40% das exportações brasileiras — abriu espaço para a reativação de canais diplomáticos.
Trump se mostra receptivo a diálogo
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (1º) na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos afirmou estar aberto ao diálogo com Lula. “Ele pode falar comigo quando quiser. Vamos ver o que acontece. Eu amo o povo brasileiro”, declarou Trump, acrescentando que “as pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada”, sem especificar a que se referia.
Apesar da sinalização positiva do americano, auxiliares de Lula descartam, por ora, uma visita oficial à Casa Branca. A avaliação no Planalto é de que um encontro formal no Salão Oval seria arriscado, dada a postura imprevisível de Trump — como demonstrado em reuniões recentes com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa. O receio é que Lula seja alvo de provocações públicas, gerando tensão diplomática.
Canais diplomáticos em construção
Nos bastidores, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem mantido diálogo com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Paralelamente, o chanceler Mauro Vieira se reuniu com o secretário de Estado, Marco Rubio, em Washington — o primeiro encontro bilateral desde a posse de Trump. As conversas são vistas como parte de uma estratégia para reconstruir pontes e viabilizar acordos sem exposição excessiva.
Às vésperas do anúncio do tarifaço, conselheiros próximos a Lula desaconselharam uma ligação ao presidente americano, por considerarem que o gesto poderia ser interpretado como sinal de fraqueza ou desespero. Agora, no entanto, esse posicionamento começa a mudar. Interlocutores avaliam que uma conversa direta pode ser produtiva, desde que Trump não interfira em assuntos internos do Brasil, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de responsabilidade exclusiva do Supremo Tribunal Federal (STF).
Esbarrão inevitável na ONU
Na Assembleia Geral da ONU, Lula abrirá os discursos, como é tradição. Em seguida, será a vez de Trump discursar. Ainda que não haja uma reunião bilateral oficial agendada, o contato entre os dois é praticamente inevitável nos bastidores do evento. O Planalto avalia que esse pode ser o momento mais adequado para uma conversa reservada, com menor risco de exposição pública.
A decisão final sobre o encontro, no entanto, dependerá da evolução das negociações diplomáticas e do comportamento de Trump nas próximas semanas.