- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 10 , JULHO 2025
Tem dias em que a gente se depara com reações na pele que parecem não ter explicação. Não é alergia a bijuteria, nem ao sabonete novo. É algo mais sutil, mais escondido. E, muitas vezes, mais surpreendente. Já acompanhei pacientes que desenvolveram urticária ao frio — basta entrar numa piscina gelada ou pegar um vento mais forte e a pele reage com manchas, coceira e inchaço. Outros simplesmente não podem entrar em contato com a água, nem mesmo suar ou chorar, porque desenvolvem ardência intensa.
E por mais raro que pareça, isso acontece. E quando acontece, assusta.
A pele também reage a substâncias que a gente nem imaginaria. Limão e figo, por exemplo, podem causar verdadeiras queimaduras se houver exposição ao sol logo depois do contato. É a chamada fitofotodermatite, e não é incomum ver pacientes que acham que estão com uma micose ou alergia simples, sem imaginar que foi aquele suco feito às pressas ou a salada temperada no almoço que causou tudo aquilo.
Tem também a alergia à própria luz do sol. Não é queimadura comum, é uma reação alérgica real. E há quem seja alérgico a produtos que deveriam ser inofensivos, especialmente os chamados “naturais”. Óleos essenciais, extratos botânicos e fragrâncias naturais, mesmo com aquele rótulo verde promissor, podem ser extremamente sensibilizantes. O natural nem sempre é sinônimo de seguro.
E não dá para ignorar o quanto o emocional mexe com a pele. Já vi urticárias desencadeadas por estresse acumulado, dermatites que surgem depois de um luto, uma separação, uma sobrecarga que o corpo não deu conta de calar. Quando isso acontece, a pele vira um grito que a pessoa muitas vezes nem sabia que estava guardando.
A verdade é que a pele fala. Fala muito. Às vezes sussurra, às vezes grita. E entender o que ela está tentando dizer exige mais do que receitas e exames. Exige escuta. Exige tempo.
Por isso, se você tem uma “alergia” que vai e volta, que aparece em momentos ou situações específicas, não ignore. Preste atenção. A resposta pode estar em algo que passou despercebido, mas que faz toda a diferença.
A medicina não é só ciência. É também sensibilidade. E a dermatologia, talvez mais do que qualquer outra especialidade, nos lembra o tempo todo que a pele não é só um órgão. Ela é um espelho do que vivemos, sentimos e, muitas vezes, tentamos esconder.
Cíntia Procópio é dermatologista, especialista em rejuvenescimento com naturalidade.
CRM: 5156 / RQE 2711