O governo da Rússia iniciou a restrição parcial de chamadas de voz realizadas pelos aplicativos Telegram e WhatsApp, após alegar que ambas as plataformas se recusaram a cooperar com autoridades locais em investigações relacionadas a fraudes e terrorismo. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (13) pelo Ministério do Desenvolvimento Digital da Rússia.

Segundo a pasta, as restrições são limitadas apenas às chamadas — demais funcionalidades dos aplicativos permanecem ativas. O regulador de comunicações Roskomnadzor informou, por meio da agência Interfax, que as medidas têm como objetivo combater o uso das plataformas por criminosos. “Medidas estão sendo tomadas para restringir parcialmente as chamadas desses aplicativos estrangeiros”, disse o órgão. “Nenhuma outra restrição foi imposta à sua funcionalidade.”

A tensão entre a Rússia e empresas de tecnologia estrangeiras não é nova. O conflito se intensificou após a invasão da Ucrânia por Moscou, em fevereiro de 2022, e faz parte da estratégia do Kremlin de aumentar o controle sobre o ambiente digital no país. O presidente Vladimir Putin já autorizou o desenvolvimento de um aplicativo nacional de mensagens, integrado a serviços governamentais, como parte da política de “soberania digital”.

O governo russo cobra das plataformas a abertura de representações legais no país, cumprimento integral das leis locais e cooperação com as autoridades. Segundo o deputado Anton Gorelkin, membro do Comitê de Tecnologia da Informação do Parlamento, o bloqueio pode ser suspenso caso os aplicativos passem a cumprir as exigências russas.

Em resposta ao jornal RBC, o Telegram declarou que combate ativamente conteúdos violentos e fraudes, e que utiliza inteligência artificial para que seus moderadores removam milhões de mensagens maliciosas diariamente.

Repórteres da Reuters relataram que, desde 11 de agosto, chamadas de voz via Telegram apresentam sérias falhas de funcionamento, enquanto as chamadas pelo WhatsApp registram áudio intermitente e ruídos metálicos, tornando o recurso praticamente inutilizável.

Embora a controladora do WhatsApp, a Meta, tenha sido classificada como organização extremista pela Rússia em 2022, o aplicativo de mensagens continua amplamente utilizado no país. Ainda assim, o WhatsApp já foi penalizado por não remover conteúdos proibidos pelas autoridades russas. No mês passado, Gorelkin afirmou que o app deveria se preparar para deixar o mercado russo. Outro legislador chegou a declarar que a permanência do WhatsApp representa uma ameaça à segurança nacional.

Críticos veem com preocupação o lançamento do novo aplicativo estatal, alertando que ele poderá ser usado para monitorar os usuários e impor maior vigilância. Há ainda temores de que o governo russo possa reduzir deliberadamente a velocidade do WhatsApp para forçar a migração de usuários para a nova plataforma oficial.

A organização Human Rights Watch divulgou recentemente um relatório apontando que a Rússia tem ampliado seu controle sobre a infraestrutura da internet no país, o que inclui o bloqueio de sites e ferramentas utilizadas para driblar a censura.