Um levantamento realizado pelo Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, identificou que nove postos de combustíveis em Mato Grosso têm ligação direta ou indireta com facções criminosas. O dado integra um mapeamento nacional que analisou a atuação do crime organizado em 26 estados, divulgado nesta segunda-feira (21) pelo jornal Folha de S. Paulo.

O estado de Mato Grosso ocupa a 11ª posição no ranking de maior penetração do crime organizado no setor de combustíveis. Em primeiro lugar está São Paulo, com 290 estabelecimentos identificados. No total, o Brasil contabiliza 941 postos suspeitos de envolvimento com organizações criminosas.

Segundo o jornal, a identificação dos postos foi feita a partir de investigações sobre lavagem de dinheiro, com base em dados de sócios com antecedentes criminais e participação em operações policiais, como roubo de cargas e uso de “laranjas”. Os nomes dos estabelecimentos não foram divulgados.

Além da lavagem de dinheiro, o domínio de postos por facções permite a prática de outras atividades ilícitas, como fraudes fiscais, sonegação de tributos e adulteração de combustíveis. De acordo com Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal (ICL), essa prática cria uma concorrência desleal no setor, ao permitir a venda de combustíveis com preços muito abaixo do mercado.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em 2022, o faturamento das facções criminosas com combustíveis, ouro, cigarros e bebidas totalizou R$ 146,8 bilhões — valor que superou o obtido com a venda de cocaína, estimado em R$ 15 bilhões.

Em Mato Grosso, o Governo do Estado tem intensificado o combate à atuação de facções por meio do programa Tolerância Zero, lançado em novembro de 2024 pelo governador Mauro Mendes. A iniciativa visa principalmente à descapitalização dessas organizações criminosas.

Os resultados já são expressivos. De acordo com dados oficiais, entre dezembro de 2024 e março de 2025, foram apreendidas 16,1 toneladas de drogas no estado — um aumento significativo em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram apreendidas 5,5 toneladas.

Apesar dos avanços no combate ao narcotráfico, ainda não há informações detalhadas sobre como se dá a atuação das facções no setor de combustíveis em Mato Grosso. A presença dos grupos nesse segmento, no entanto, acende um alerta para a diversificação das fontes de financiamento do crime organizado no estado.