- CUIABÁ
- SÁBADO, 14 , JUNHO 2025
Das cinco músicas mais ouvidas no Spotify Brasil nesta semana, quatro foram lançadas há menos de um ano — três delas, há cerca de um mês. Mas uma canção foge do padrão recente de sucessos instantâneos: “Entregador de flor”, da dupla Diego e Victor Hugo, foi lançada em maio de 2019 e alcança agora sua melhor posição nas paradas.
Atualmente em quarto lugar no ranking, a música passou anos longe dos holofotes. Em 27 de fevereiro deste ano, por exemplo, ocupava apenas a 107ª posição. Desde então, a faixa ganhou tração e conquistou espaço entre as mais tocadas do país.
Em 2024, ao perceberem o crescente destaque da música durante os shows, Diego e Victor Hugo celebraram o que classificaram como um “boom tardio”:
“Uma moda gravada em 2019 que ressurge aclamada pelo povo, em um movimento inesperado e na contramão do mercado.”
Um sucesso orgânico e fora dos padrões
Casos de músicas que voltam ao topo anos após o lançamento se tornaram mais comuns na era das redes sociais — como aconteceu com “Dreams”, do Fleetwood Mac, que ressurgiu em 2020 após virar trilha de um vídeo viral. Mas a trajetória de “Entregador de flor” é diferente.
Segundo a dupla, o sucesso aconteceu de forma 100% orgânica: não houve promoção comercial, clipe, nem investimento em rádios. No mercado internacional, esse fenômeno é conhecido como “sleeper hit” — quando um produto cultural alcança o sucesso muito tempo depois de ser lançado.
“A gente sempre acreditou muito nessa música, mas nunca imaginamos que ela pudesse atravessar tantos anos e ainda emocionar tanta gente. Esse feito mostra a força da nossa arte e o quanto o público é quem decide o destino de uma canção. É um presente que recebemos com muita humildade e felicidade”, afirma Diego.
“É inacreditável ver como uma música que nasceu lá atrás, em 2019, continua tocando tão forte no coração das pessoas. Isso prova que, quando uma canção é verdadeira, ela encontra seu tempo, seu espaço e se renova”, completa Victor Hugo.
Por que agora?
Para o compositor Renno Poeta, um dos autores da faixa, o sucesso tardio tem explicação:
“O mercado é cíclico. Depois da euforia do Carnaval, as pessoas voltam a falar sobre romantismo, amores, paixões. ‘Entregador de flor’ preencheu essa lacuna. Existem poucas canções com essa leveza hoje”, analisa.
A origem de “Entregador de flor”
A canção foi composta em 13 de janeiro de 2019, em um encontro na casa da compositora Lari Ferreira. Além dela e de Renno, também assinam a faixa Diego Silveira e Thales Lessa.
“Escrevemos juntos na varandinha do apartamento da Lari. Foi tudo rápido. Às 16h59, já tínhamos terminado a música”, lembra Renno, mostrando ao g1 o print do bloco de notas com a composição.
A letra narra a história de um homem que envia flores para sua amada a cada sete dias, substituindo sempre o buquê anterior. A ideia, segundo Renno, surgiu de uma reflexão sobre dois tipos de pessoas:
As que erram em um relacionamento e tentam mostrar que ainda sabem cuidar;
E as que conquistam pela insistência e pelo cuidado constante, até serem aceitas.
De mãos em mãos até chegar ao sucesso
Antes de ser gravada por Diego e Victor Hugo, a música foi oferecida a outros artistas. Inclusive, Guilherme e Benuto lançaram sua versão em 2 de fevereiro de 2019, no DVD “Amando, Bebendo e Sofrendo”.
Mesmo assim, foi a gravação de Diego e Victor Hugo que encontrou seu público — ainda que com alguns anos de atraso. “Entregador de flor” é, hoje, um exemplo de como a força do público e o poder da identificação emocional podem reescrever a história de uma música.