- CUIABÁ
- SÁBADO, 12 , JULHO 2025
A possível retaliação do governo brasileiro à tarifa de 50% imposta pelo ex-presidente dos Estados Unidos e pré-candidato à reeleição, Donald Trump, sobre produtos importados do Brasil, pode desencadear uma série de impactos negativos na economia nacional. É o que apontam economistas. o aumento tarifário anunciado por Trump na última quarta-feira (9) entrará em vigor em 1º de agosto.
Caso o Brasil decida responder com medidas semelhantes, o cenário projetado inclui queda na bolsa de valores, alta da inflação e aumento da volatilidade no câmbio. Um dos primeiros efeitos previstos seria o encarecimento de produtos de tecnologia com alto valor agregado, que compõem o consumo das famílias e a cadeia produtiva da indústria e do setor de serviços.
“Poderíamos ver alguns balanços de empresas piorando devido ao arrefecimento do consumo. Veríamos o lucro operacional dessas empresas caindo, o que não é uma boa visualização para o Ibovespa”, avaliou Pedro Moreira, sócio da One Investimentos.
O impacto da medida já começou a ser sentido no câmbio. No dia 3 de julho, o dólar fechou cotado a R$ 5,40 — o menor valor desde junho de 2024. Uma semana depois, nesta quinta-feira (10), a moeda norte-americana encerrou o dia em R$ 5,54, um salto após o anúncio de Trump.
Para o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, além da pressão sobre o câmbio, a retaliação brasileira pode comprometer a produção nacional, especialmente no agronegócio e na indústria de transformação, com reflexos diretos sobre a inflação e o emprego.
“O provável impacto sobre a produção pode afetar as condições de oferta e, assim, o emprego domesticamente. Caso persistam os níveis de tarifas propostos, os efeitos podem ser bastante significativos”, disse Salto.
Além disso, o operador de renda variável da Manchester Investimentos, Patrick Buss, aponta que uma retaliação pode afastar investidores estrangeiros da bolsa e das companhias brasileiras, provocando fuga de capitais e pressionando ainda mais o real.
“Em efeito cadeia, a percepção de risco-país também pode subir, afetando os títulos públicos e elevando o custo de captação para as empresas brasileiras. Mesmo focada nas importações, a retaliação pode desencadear reações negativas amplas no ambiente macroeconômico e financeiro”, alertou Buss.
Substituição de mercados
Apesar do cenário preocupante, analistas veem uma possível abertura para o Brasil diversificar seus parceiros comerciais. A imposição da tarifa por parte dos EUA pode incentivar o redirecionamento das exportações brasileiras para mercados como China e União Europeia.
O professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, afirma que o conflito comercial com os Estados Unidos pode favorecer o estreitamento das relações com os chineses. “Imaginar que o Brasil vai taxar os Estados Unidos e isso não vai repercutir no comércio aqui é uma posição frágil. O problema está na substituição, e qualquer criança sabe que será a China”, afirmou.
Trevisan citou ainda a postura conciliadora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que em nota declarou que a tarifa adicional de 50% “prejudica as economias dos dois países, causando danos a empresas e consumidores”.
Segundo o especialista, a medida adotada por Trump pode ter consequências mais amplas para os EUA. “Quanto mais os Estados Unidos colocarem pressões desse tipo contra o Brasil, mais a América Latina como um todo se aproximará da China. É nesse sentido que eu acho que é um tiro no pé”, concluiu.