- CUIABÁ
- QUARTA-FEIRA, 23 , JULHO 2025
- contato@fatoagoramt.com.br
O governo do Irã declarou nesta sexta-feira (20) que não retomará negociações sobre seu programa nuclear enquanto estiver sob ataque de Israel. A declaração ocorre em meio a uma nova escalada militar entre os dois países e esforços da Europa para reabrir os canais diplomáticos. Os Estados Unidos, por sua vez, avaliam se devem ou não intervir no conflito.
Uma semana após iniciar a ofensiva contra o Irã, as Forças Armadas israelenses afirmaram ter realizado novos bombardeios durante a madrugada, atingindo dezenas de alvos militares. Entre eles, estariam instalações de produção de mísseis e um centro de pesquisa em Teerã supostamente envolvido no desenvolvimento de armas nucleares.
Em resposta, o Irã lançou uma nova onda de mísseis contra a cidade israelense de Beersheba, no sul do país, atingindo prédios residenciais, escritórios e instalações industriais.
Na quinta-feira (19), a Casa Branca informou que o presidente Donald Trump decidirá, nas próximas duas semanas, se os EUA participarão do conflito. A possibilidade de novas negociações com o Irã também está sendo considerada por Washington.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, afirmou nesta sexta que não há “espaço para negociações” com os Estados Unidos — aliados de Israel — até que os ataques israelenses cessem. Apesar disso, Araqchi deve se reunir ainda hoje com ministros das Relações Exteriores da França, Reino Unido e Alemanha, além da chefe de política externa da União Europeia, em Genebra. A expectativa é de que os europeus tentem traçar um caminho para o retorno à diplomacia nuclear.
De acordo com dois diplomatas europeus, Araqchi será informado de que os Estados Unidos ainda estão abertos a conversas diretas. No entanto, as chances de um avanço são consideradas mínimas.
Israel iniciou os ataques ao Irã em 12 de junho, com o argumento de que Teerã estaria prestes a desenvolver armamentos nucleares. O governo iraniano nega as acusações e sustenta que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos. Desde então, ambos os lados têm trocado ataques com mísseis e drones.
Acredita-se amplamente que Israel possua armas nucleares, embora o país nunca tenha confirmado oficialmente. Segundo a Human Rights Activists News Agency, organização sediada nos Estados Unidos, os bombardeios israelenses já deixaram 639 mortos no Irã, entre eles militares de alta patente e cientistas nucleares. Israel afirma que pelo menos duas dezenas de civis morreram em seu território em decorrência dos ataques iranianos. Os números não foram verificados de forma independente, e o total de vítimas nos ataques mais recentes ainda não é conhecido.
Ambos os lados sustentam que estão mirando alvos militares e estratégicos, mas civis têm sido atingidos. Há acusações mútuas de que hospitais e áreas residenciais foram bombardeados. Um site iraniano informou que um drone atingiu um apartamento no centro de Teerã, mas não divulgou mais detalhes.
Segundo especialistas, os ataques israelenses às instalações nucleares iranianas representam até agora riscos limitados de contaminação. No entanto, alertam que uma ofensiva contra a usina nuclear de Bushehr poderia provocar um desastre de grandes proporções.
Israel afirma que sua intenção é eliminar a capacidade nuclear do Irã, mas ressalta que busca evitar uma tragédia ambiental e humana em uma região densamente povoada e crucial para a produção global de petróleo.
A reunião desta sexta-feira em Genebra ocorre no mesmo local onde, em 2013, foi firmado o primeiro acordo para limitar o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas. O tratado foi ampliado em 2015, mas os Estados Unidos se retiraram do pacto em 2018, durante o governo Trump.
As mais recentes tentativas de retomada das negociações entraram em colapso após o lançamento da chamada Operação Leão Ascendente, ofensiva israelense contra instalações nucleares e mísseis iranianos.
O governo Trump tem alternado entre ameaças a Teerã e apelos pela retomada do diálogo. Fontes afirmam que o enviado especial dos EUA para a região, Steve Witkoff, manteve conversas com Araqchi nos últimos dias.
O conflito se intensificou em um Oriente Médio já em tensão desde outubro de 2023, quando o grupo palestino Hamas atacou Israel, dando início à guerra em Gaza. Desde então, Israel enfrenta confrontos em várias frentes com aliados regionais do Irã.
Autoridades ocidentais e regionais afirmam que Israel estaria tentando enfraquecer, ou mesmo derrubar, o regime do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo iraniano. Na quinta-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou que “a queda do regime [iraniano] pode ser um resultado, mas cabe ao povo iraniano lutar por sua liberdade”.
Grupos de oposição dentro do Irã veem o momento como uma possível oportunidade, mas ativistas dizem que a população está focada na sobrevivência em meio aos ataques. “Como as pessoas podem sair às ruas? Em circunstâncias tão horríveis, elas só pensam em salvar a si mesmas, suas famílias, seus compatriotas — e até seus animais de estimação”, afirmou Atena Daemi, ativista que passou seis anos presa antes de deixar o Irã.