- CUIABÁ
- DOMINGO, 15 , JUNHO 2025
Embora seja uma das principais regiões produtoras de energia do Brasil, Mato Grosso continua a enfrentar uma das tarifas de energia elétrica mais altas do país. Segundo o ranking divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a tarifa média paga pelo consumidor da Energisa MT em 2024 é de R$ 0,847 por kWh, a sexta mais cara do Brasil, ficando acima da média nacional.
Este dado chama a atenção, principalmente por Mato Grosso abrigar grandes ativos do setor elétrico, incluindo diversas hidrelétricas de médio e grande porte. No entanto, essa infraestrutura não se reflete nos preços pagos pelos consumidores mato-grossenses. Para o engenheiro elétrico e professor da Universidade Federal de Itajubá, José Marangon, a explicação está no modelo do sistema energético brasileiro.
Em palestra realizada durante o Encontro da Indústria do Setor Elétrico, promovido pelo Sindenergia (Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso) em Cuiabá, Marangon afirmou que o modelo de distribuição de energia, estabelecido no final dos anos 1990, favorece principalmente a região Sudeste, onde se concentram os grandes centros consumidores do país.
“O Brasil foi construído com a lógica de levar energia das hidrelétricas no interior para os grandes centros no litoral”, afirmou Marangon, que já trabalhou na Eletrobras, na Aneel e no Ministério de Minas e Energia. “A linha de corrente contínua que atravessa Mato Grosso, por exemplo, liga Porto Velho a São Paulo, mas a energia não fica aqui. Ela passa e vai embora”, completou.
Embora o estado seja rico em potencial hidráulico e solar, a interiorização da geração de energia não foi acompanhada pela interiorização dos benefícios. Marangon comparou a situação de Mato Grosso à do Amazonas: “Mato Grosso gera muito, mas consome pouco, e paga caro”, afirmou.
Tarifas altas e pouca geração local
A situação de Mato Grosso não é isolada. De acordo com a Aneel, entre as dez tarifas mais altas do país estão também estados da região Norte e Nordeste, como Pará, Alagoas e Amazonas. Em 2024, a distribuidora com a tarifa mais alta é a Equatorial Pará, com R$ 0,938 por kWh, seguida pela Enel RJ (R$ 0,913/kWh) e Energisa MS (R$ 0,870/kWh).
Marangon explicou que a energia gerada no Brasil segue a lógica de leilões e contratos de longo prazo no mercado regulado, e que os consumidores finais acabam arcando com os custos de transmissão e distribuição. Ele também abordou o papel da geração distribuída, como a energia solar em telhados, que pode ajudar a reduzir as tarifas. No entanto, alertou que a geração distribuída ainda enfrenta dificuldades regulatórias e de compreensão. “A geração distribuída pode ser parte da solução, mas há resistência das distribuidoras. É preciso mudar a lógica do sistema”, afirmou.
Encontro do setor e desafios para Mato Grosso
O evento, realizado entre 20 e 21 de maio, reuniu representantes de empresas do setor, autoridades estaduais e especialistas em energia para discutir soluções para o crescimento do setor energético em Mato Grosso. Durante a abertura do Encontro, o presidente do Sindenergia, Carlos Coelho Garcia, afirmou que o estado vive um momento decisivo para o futuro do setor elétrico.
“Somos, de um lado, um dos maiores potenciais remanescentes do país. Por outro, enfrentamos um período desafiador, em que a infraestrutura existente não suporta o crescimento da nossa matriz elétrica”, disse Garcia. “Precisamos urgentemente garantir a expansão da infraestrutura e viabilizar o crescimento do nosso parque gerador, especialmente com fontes hidrotérmicas e solares. Isso é fundamental não apenas para baratear a energia, mas para garantir a qualidade do fornecimento e sustentar o desenvolvimento industrial do estado”, completou.