- CUIABÁ
- SEGUNDA-FEIRA, 28 , JULHO 2025
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (21) que o Brasil não vai deixar a mesa de negociação com os Estados Unidos, apesar da possibilidade de que o tarifaço sobre produtos brasileiros comece a valer já a partir de 1º de agosto.
Em entrevista à Rádio, Haddad disse que o governo federal está mobilizado para tentar evitar a adoção da tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Ao mesmo tempo, estão sendo elaborados planos de contingência para mitigar os impactos sobre os setores mais afetados.
— O Brasil não vai sair da mesa de negociação. A determinação do presidente Lula é que não demos nenhuma razão para sermos alvo desse tipo de sanção. O vice-presidente Geraldo Alckmin, o Ministério da Fazenda e o Itamaraty estão permanentemente engajados — afirmou o ministro. — Mandamos uma segunda carta ao governo americano na semana passada, além da enviada em maio, mas ainda não obtivemos resposta. Seguiremos insistindo no diálogo comercial.
Segundo Haddad, o governo está analisando diferentes cenários, incluindo a possibilidade de que os EUA não respondam às comunicações brasileiras até o prazo limite.
— A pedido do presidente Lula, estamos desenhando todos os cenários possíveis, incluindo a ausência de resposta até o dia 1º de agosto. Esse é um dos cenários que não podemos descartar, mas há outros em avaliação. Temos planos de contingência preparados para qualquer decisão que venha a ser tomada — declarou.
Reciprocidade, mas sem revide
Haddad também afirmou que o Brasil não pretende aplicar sanções em retaliação, mas estuda o uso da lei da reciprocidade como forma de resposta, caso o tarifaço se concretize.
— Não vamos pagar na mesma moeda, mas temos um grupo de trabalho elaborando propostas para apresentar ao presidente ainda nesta semana. Estão sendo analisadas alternativas tanto com base na lei da reciprocidade quanto em possíveis medidas de apoio aos setores mais prejudicados. Mas essas propostas ainda não foram levadas ao presidente — disse.
O ministro destacou que as ações previstas no plano de contingência não necessariamente implicam em aumento de gastos públicos, citando como exemplo a resposta às enchentes no Rio Grande do Sul.
— No caso do Rio Grande do Sul, que foi um evento climático extremo, a menor parte do investimento para a recuperação da economia local foi de gasto primário. A maior parte foi direcionada ao apoio às empresas afetadas, por meio de linhas de crédito — explicou.
Relações políticas e impacto comercial
De acordo com Haddad, diversos países vêm sendo afetados pelas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, mas o Brasil tem uma particularidade: a proximidade entre Donald Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
— Este é um momento de unidade nacional na defesa do interesse do Brasil. Mas há uma força política de extrema direita no país que atua contra esses interesses — disse o ministro. — O Brasil tem déficit na balança comercial com os Estados Unidos. Estamos longe de ser um problema para eles. Não há justificativa para uma tarifa de 50%.
Haddad também demonstrou surpresa com a mudança de postura do governo americano em relação ao tema. Segundo ele, houve sinalização anterior de que a tarifa de 10% seria discutida e poderia até ser reduzida.
— Estive com o secretário do Tesouro na Califórnia há dois meses. Discutimos a tarifa de 10% e ele estava aberto ao diálogo. O que mudou de lá pra cá para que, de repente, acordemos com uma tarifa de 50%? — questionou. — A única explicação plausível é a relação pessoal entre Trump e Bolsonaro, o que é muito grave.
Outro ponto que causou estranhamento ao ministro foi o anúncio de Trump de que pretende investigar o Pix, sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido no Brasil.
— O Pix é um modelo bem-sucedido de transações financeiras a custo zero. É como o celular que substituiu o telefone fixo. Como isso poderia representar uma ameaça a um império? — ironizou.
Meta fiscal e cenário econômico
Haddad também reafirmou que o governo não irá revisar sua meta fiscal, apesar das especulações do mercado.
— O mercado sempre fala que vamos rever, mas nunca fizemos isso. A meta será mantida — garantiu.
Segundo ele, até o final do mandato do presidente Lula, o governo entregará o melhor resultado fiscal dos últimos 12 anos.
— Vamos entregar o melhor resultado fiscal em quatro anos, o melhor nível de emprego, a melhor distribuição de renda e o melhor crescimento médio desde 2015. A obsessão do Ministério da Fazenda, da área econômica e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, é garantir isso — concluiu.