segunda-feira, 21 - julho 2025 - 08:35

Fraude bilionária no Farmácia Popular envolve farmácias fantasmas e uso de CPFs falsos


Farmácia – Popular
Farmácia – Popular

Uma operação da Polícia Federal revelou um sofisticado esquema criminoso que utilizava farmácias fantasmas, CPFs de cidadãos inocentes e até terrenos baldios como fachada para desviar milhões de reais do programa federal Farmácia Popular. A estimativa é de que aproximadamente R$ 40 milhões tenham sido saqueados dos cofres públicos por meio de fraudes sistemáticas, com ramificações que envolvem até nomes ligados ao tráfico de drogas.

De acordo com as investigações, diversas farmácias supostamente credenciadas funcionavam apenas no papel. Algumas estavam registradas em terrenos baldios, tomados pelo mato. Um desses estabelecimentos, por exemplo, tinha número de telefone com DDD de João Pessoa (PB), mas não possuía endereço físico real. O número estava registrado em nome de Célia Aparecida de Carvalho, apontada como fornecedora de CNPJs “de aluguel” utilizados no esquema.

A fraude não se limitava às farmácias inexistentes. A PF identificou o uso indevido de cerca de 160 mil CPFs de brasileiros para simular a retirada de medicamentos subsidiados — muitos deles de alto custo. O programa Farmácia Popular, mantido pelo Ministério da Saúde, oferece medicamentos gratuitos ou com até 90% de desconto mediante apresentação de receita médica, CPF e documento oficial.

“Todos os dias nós combatemos cerca de 140 mil tentativas de fraudes no sistema”, alertou Rafael Bruxellas Parra, diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS.

Entre os casos apurados está o do dentista Gustavo, morador de Sumaré (SP), que descobriu ser uma das vítimas ao acessar o aplicativo Conecte SUS. “Nunca tive diabetes, nunca precisei de insulina. E lá constava que eu retirava 20 caixas por mês”, relatou. As retiradas estavam vinculadas a uma drogaria em Campo Belo (MG), da qual Gustavo nunca teve conhecimento.

O esquema também usava laranjas para registrar farmácias fraudulentas. Francisca Ferreira de Souza, empregada doméstica residente em uma casa simples em Luziânia (GO), aparece como proprietária de cinco drogarias em diferentes estados. Em apenas uma delas, teria movimentado quase R$ 500 mil. Ela é casada com Brazilino Inácio dos Santos, também investigado, que aparece como sócio de ao menos dez empresas usadas para movimentar recursos ilícitos. Entre 2018 e 2019, essas empresas movimentaram mais de R$ 2,5 milhões.

As autoridades agora investigam se parte do dinheiro foi repassada a Fernando Piolho, apontado como um dos líderes do esquema. Célia Aparecida também aparece negociando CNPJs com Adriano Rezende Rodrigues, conhecido como “Adriano Tatu”. Uma farmácia em Cerquilho (SP), da qual Tatu é sócio, teria recebido quase R$ 1 milhão do programa federal.

Ao todo, a Polícia Federal identificou 148 farmácias — entre reais e fictícias — envolvidas na rede de desvio de verbas públicas. O caso expõe não apenas um rombo milionário em um dos principais programas de acesso a medicamentos do país, mas também uma complexa teia de corrupção, tráfico e falsidade ideológica.

A investigação segue em andamento, e novos desdobramentos não estão descartados.

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