segunda-feira, 3 - março 2025 - 20:33

Bolsonaristas silenciam sobre Oscar e passam Carnaval atacando Moraes


Eduardo Bolsonaro – Marcelo Camargo/Agência Brasil
Eduardo Bolsonaro – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio à comoção pelo primeiro Oscar brasileiro e as ruas tomadas por blocos de Carnaval, a família Bolsonaro e seus apoiadores mais influentes silenciaram sobre a conquista do filme “Ainda Estou Aqui” e passaram o feriado criticando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O filme trata do caso do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, um desafeto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já fez diversas manifestações favoráveis à Ditadura Militar.

Os últimos dias da família Bolsonaro foram tomados pela mobilização contra a possibilidade de apreensão do passaporte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A vitória do primeiro filme brasileiro na principal premiação cinematográfica do mundo passou em branco ou foi tratada de forma velada.

Moraes é atacado por ter encaminhado à Procuradoria Geral da República uma queixa-crime do PT, que pede a apreensão do passaporte do parlamentar sob a justificativa de que atua no exterior para impor sanções ao Brasil por parte dos Estados Unidos. Por ora, o ministro não emitiu ordem alguma e apenas enviou a queixa manifestação do órgão.

No entanto, o episódio é tratado como uma suposta perseguição a Eduardo. No sábado (2/3), o parlamentar postou uma montagem de Moraes com a frase, em francês, que diz: “O estado sou eu”. A frase é atribuída ao rei Luís XIV (1638-1715), que ficou conhecido como rei-sol, devido à concentração de poder sobre sua figura na época.

Posteriormente, o deputado interage com o bilionário e chefe do Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos, Elon Musk. “Ele [Moraes] está fora de controle”, comentou o parlamentar se dirigindo Musk, em um post sobre uma brasileira naturalizada norte-americana que teve ordem de prisão expedida.

O ex-presidente Jair Bolsonaro seguiu na mesma toada. Ou seja, nada de Oscar e com foco no assunto da suposta ameaça de apreensão do passaporte. “A possível apreensão do passaporte do deputado Eduardo Bolsonaro visa criar constrangimento, ou instruir ação judicial para impedi-lo de assumir a Comissão de Relações Exteriores”, escreveu o ex-mandatário.

O senador Flávio Bolsonaro (PL) também compartilhou críticas a Moraes. “Um ministro da Suprema Corte não pode agir como chefe de polícia, promotor, juiz e carrasco ao mesmo tempo, escolhendo quem vai investigar, quem vai punir e quem vai silenciar, como se estivesse ‘brincando’ de ditador”, escreveu.

O senador tocou lateralmente no tema cinematográfico ao compartilhar uma postagem do ex-ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, em que ele fala sobre “Ainda Estou Aqui” ao citar pessoas presas por participação no episódio de 8/1 –no entanto, não há menção à vitória do filme no Oscar.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) afirmou que a “mera cogitação em suspender o passaporte de um Deputado Federal é mais um crime contra a democracia cometido por Alexandre de Moraes”. Antes da vitória, ao ser questionado sobre “Ainda Estou Aqui”, Nikolas afirmou que não torceria contra o filme. Depois do Oscar, porém, ainda não houve nova manifestação.

Apenas uma minoria de parlamentares bolsonaristas se referiu ao filme. Um dos que se manifestou sobre vitória do Oscar, que mobilizou o país, foi o deputado federal Marco Feliciano (PL), que criticou a politização do filme.

“O filme brasileiro “Ainda estou aqui”, infelizmente perdeu as duas mais importantes e mais esperadas estatuetas: a de melhor atriz e a de melhor filme. Ganhou a estátua de melhor filme internacional. Parabéns a produção e parabéns a atuação. Se não tivesse sido tão politizado, quem sabe não teria levado as demais?”, escreveu.

O senador fluminense Carlos Portinho (PL) fez um post comemorando a vitória, foi criticado por alguns nos comentários e, pouco tempo depois, postou que o Brasil ainda tem presos políticos e criticou a “concentração de poderes na mão de um Tirano” e disse que “aqui Democracia não é”, como mostrou o Metrópoles.

O deputado Bibo Nunes (PL-RS) elogiou o filme, mas apagou o comentário. O político manteve publicação em que afirma esperar que o filme “não tenha usado verba pública, pois o Diretor Walter Salles é um milionário”.

Embora tenha se mantido longe das críticas a Moraes, o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), da ala vista como mais moderada do bolsonarismo, foi outro que não se manifestou sobre a vitória do filme que mobilizou o país. Antes do anúncio Oscar, no sábado, o governador se concentrou em postagens sobre policiais que fizeram prisões vestidos de Power Rangers, em um momento que a Polícia Civil é assolada por casos de corrupção. No dia seguinte, suas redes não fazem menção ao tema.

Embora apoiador de Bolsonaro, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comemorou o feito. “Parabéns a todos pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, ‘Ainda Estou Aqui’, a estatueta de ouro é nossa! Mais um orgulho em ser brasileiro, a cidade de São Paulo está em festa!”, escreveu Nunes.

Nos blocos de Carnaval que tomaram as ruas de São Paulo, houve exaltação à vitória do filme dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e pedidos de prisão de Bolsonaro. O tradicional bloco Charanga do França, que desfila nas ruas do bairro da Santa Cecília (centro), contou uma marchinha que dizia “Prende, prende, prende Bolsonaro”.

A esquerda aproveitou a vitória para atacar uma das principais bandeiras do bolsonarismo, a proposta de anistia contra os acusados de golpe em 8/1. “O Brasil ganhou! A memória das vítimas da ditadura segue viva! Sem anistia”, escreveu o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).



Metrópoles
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