- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 24 , ABRIL 2025
O embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, compareceu nesta terça-feira (1º) ao Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, atendendo à convocação do chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, para prestar esclarecimentos sobre uma suposta espionagem realizada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra o país vizinho. O diplomata brasileiro se reuniu com o vice-ministro paraguaio de Relações Exteriores, Víctor Verdún, que formalizou a solicitação de um relatório detalhado sobre as operações de inteligência supostamente realizadas contra o Paraguai.
Conforme informado pela chancelaria paraguaia, o documento exige uma explicação sobre ações de espionagem que teriam ocorrido entre junho de 2022 e março de 2023. A reunião do representante brasileiro com autoridades paraguaias ocorreu após o chanceler paraguaio convocar seu embaixador em Brasília para consultas e anunciar a suspensão das negociações referentes ao Anexo C do acordo bilateral sobre a compra e venda de energia da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Em sua declaração, o chanceler paraguaio qualificou as ações como “uma violação do direito internacional, a intromissão nos assuntos internos por parte de um país no outro”. O governo paraguaio afirmou que o Ministério da Tecnologia da Informação e Comunicação está investigando a possível invasão aos sistemas do país entre 2022 e março de 2023, período indicado como o de realização da operação com autorização do governo de Jair Bolsonaro.
Gustavo Villate, ministro da Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraguai, questionou as possíveis ações de espionagem, incluindo o vazamento de dados de e-mails e a possível invasão de dispositivos de autoridades paraguaias. “Não sabemos exatamente o que aconteceu, mas está claro, a partir do comunicado do governo brasileiro, que houve uma ordem para a Abin realizar essas operações de inteligência durante esse período”, afirmou Villate.
O governo paraguaio anunciou que suspenderá as negociações relacionadas à hidrelétrica até que o Brasil forneça todos os esclarecimentos exigidos. “É fundamental restaurar a confiança, que é a base de nossa relação. Somos parceiros na maior hidrelétrica do mundo e estamos diante de um fato histórico que afetará o futuro do nosso país, a negociação do Anexo C, que precisa ser feita com confiança”, declarou Villate.
Na segunda-feira (31), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil negou qualquer envolvimento do governo atual, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em ações de espionagem contra o Paraguai. A posição brasileira foi uma resposta a uma reportagem do portal UOL, que noticiou que uma operação de invasão de computadores do Paraguai, iniciada no final do governo Bolsonaro, teria continuado durante a gestão Lula, com a participação do atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
Apurou que o caso está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito sobre a “Abin paralela”, onde depoimentos de servidores da agência indicam a realização de uma ação de espionagem contra o Paraguai.