- CUIABÁ
- QUINTA-FEIRA, 24 , ABRIL 2025
Em meio à intensificação da guerra comercial entre China e Estados Unidos, Brasil e China vêm estreitando suas relações econômicas. Diversos sinais dessa aproximação têm se multiplicado nos últimos meses, muitos deles anteriores à recente disputa tarifária deflagrada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump.
De janeiro a março deste ano, a corrente de comércio entre os dois países bateu recorde para o período, ultrapassando US$ 38,8 bilhões. Do total, US$ 19,8 bilhões corresponderam a exportações brasileiras, enquanto US$ 19 bilhões foram de importações oriundas da China.
Importações brasileiras da China disparam com destaque para o setor naval
As importações brasileiras vindas da China cresceram 35% no primeiro trimestre de 2025. Um dos principais responsáveis por esse salto foi o grupo de “Plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes”, que movimentou US$ 2,7 bilhões – um número expressivamente superior aos cerca de US$ 4 milhões registrados em 2024.
Segundo dados do Comex Stat, portal oficial do governo brasileiro, o Brasil não comprava plataformas de perfuração da China desde 2020. O crescimento coincide com o anúncio, na última sexta-feira (18), de novas tarifas portuárias dos Estados Unidos sobre navios chineses, sob a justificativa de reativar a indústria naval americana frente à crescente presença chinesa no setor.
Agronegócio brasileiro vislumbra oportunidades em meio à disputa China-EUA
A tensão comercial entre China e EUA também tem provocado movimentações no setor do agronegócio brasileiro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o cenário atual tem acelerado negociações com o governo chinês.
“Há sim a expectativa de ampliação dos negócios com a China”, declarou Fávaro na última quinta-feira (17).
Na semana passada, representantes do Ministério da Agricultura da China estiveram no Brasil para reuniões com autoridades brasileiras. Uma nova rodada de encontros está prevista para o próximo dia 22, desta vez entre o Ministério da Agricultura do Brasil e o GACC – órgão alfandegário chinês responsável pelas regras de importação. O foco do governo brasileiro é reduzir a burocracia na aprovação de produtos biotecnológicos, como sementes geneticamente modificadas e alimentos com edição gênica.
Comitiva brasileira prepara visita de Lula à China
Como parte da preparação para a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, prevista para maio, integrantes do alto escalão do governo já estão em território chinês para avançar nas negociações e organizar os encontros bilaterais.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já desembarcou no país asiático. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, é esperado em Pequim no fim de abril.
Nova rota marítima conecta China ao Norte e Nordeste do Brasil
Outro passo relevante na relação bilateral foi dado no setor portuário. Na última quinta-feira, foi inaugurada uma nova rota marítima direta entre China e Brasil. O novo corredor liga o Porto de Gaolan, na cidade de Zhuhai, aos portos brasileiros de Santana (AP) e Salvador (BA).
De acordo com o Ministério de Portos e Aeroportos, a nova rota atende diretamente zonas estratégicas de produção agrícola e mineral no Brasil, otimizando o escoamento de commodities para o mercado chinês.
Brics: Bolsa de grãos e nova postura frente ao dólar
No cenário multilateral, um movimento com potencial de gerar desconforto em Washington ocorreu em Brasília, durante reunião do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics, também na quinta-feira (18).
Os países do bloco declararam apoio formal à proposta russa de criação de uma “Bolsa de Grãos do Brics”. O objetivo da iniciativa é facilitar o comércio agrícola entre os países-membros e reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais.
A bolsa seria uma alternativa às tradicionais CBOT (Chicago Board of Trade) e KCBT (Kansas City Board of Trade), ambas referências globais no comércio de commodities agrícolas, sediadas nos Estados Unidos.
A declaração conjunta também prevê o fortalecimento da cooperação entre os países do bloco em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com foco em inovação e na fabricação de maquinários agrícolas adaptados às realidades regionais.